Após a tradução do livro “O Único Deus Verdadeiro“, que você pode baixar gratuitamente aqui, começamos hoje a postar semanalmente um novo capítulo do livro “A Verdade sobre o Homem”.  No mesmo formato que o anterior, este guia de estudo bíblico propõe apresentar a doutrina do homem de forma bíblica e participativa. É um ótimo material para grupos pequenos, escolas bíblicas dominicais, discipulados e afins. Esperamos que seja proveitoso para sua alma e para sua igreja.

Confira aqui o sumário.

 

Assim, cheguei a esta conclusão: Deus fez os homens justos, mas eles foram em busca de muitas intrigas. (Eclesiastes 7:29)

Lição 2: A Queda de Adão

De acordo com Seu próprio intento e beneplácito, Deus criou Adão e Eva e ordenou que eles não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal. A obediência à ordem levaria a uma vida contínua, tanto de alegre comunhão com Deus tanto de domínio sobre a criação. A desobediência à ordem levaria à morte espiritual e física e todos os males decorrentes delas.

Adão e Eva foram tentados e desobedeceram à ordem. Por causa de sua desobediência, sua comunhão com Deus foi quebradas e eles caíram de seu estado original de justiça e santidade. Tais consequências devastadoras da desobediência de adão não foram limitadas a ele, mas resultaram na queda de toda a raça humana. Apesar de as Escrituras não removerem todo o mistério que cerca esta grande verdade, elas afirmam que o pecado e a culpa de Adão foram imputados, ou creditados, a todos os seus descendentes, e que todos os homens sem exceção são agora nascidos carregando a natureza caída de Adão e exibindo a hostilidade de Adão para com Deus.

Estes pontos serão discutidos nas lições que se seguem, começando com a Queda de Adão.

A Queda de Adão

Após ter Deus criado Adão à Sua imagem, Ele lhe deu uma simples ordem: “Da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás.” Um aviso seguiu esta proibição: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:17). A obediência de Adão para com Deus o levaria a um contínuo ou possivelmente até mesmo maior estado de felicidade. Sua desobediência levaria à morte.

1. Em Gênesis 2:16-17 são encontrados a ordem e o aviso dados a Adão. Leia o texto até que você se familiarize com seu conteúdo e então responda às seguintes perguntas:

a. De acordo com o versículo 16, que privilégio Deus deu a Adão? Como tal privilégio prova que Deus se importava com Adão e não desconsiderava suas necessidades?

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b. De acordo com o versículo 17, que proibição foi dada a Adão? O que foi dito a Adão para que não fizesse?

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c. De acordo com o versículo 17, qual seria a pena pela desobediência à ordem de Deus?

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2. Em Gênesis 3:1-6 é encontrado o registro bíblico de como Adão e Eva foram tentados a desobedecer à ordem de Deus. Leia o texto até que você se familiarize com seu conteúdo, e então responda às seguintes perguntas:

a. No versículo 1, as Escrituras declaram que uma serpente literal tentou a Eva. De acordo com Apocalipse 12:9 e 20:2, quem era aquele trabalhando na serpente e através da serpente?

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b. De acordo com os versículos 4 e 5, que promessa Satanás fez a Eva?

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c. De acordo com o versículo 6, como Eva e seu esposo Adão responderam à tentação de Satanás através da serpente?

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3. Gênesis 3:7-10 registra os resultados imediatos da desobediência de Adão e Eva. Leia o texto diversas vezes até que você se familiarize com seu conteúdo e então escreva seus pensamentos. Quais foram os resultados da desobediência deles?

a. Versículo 7

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b. Versículos 8-10

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Nota: (a) Com um ato de desobediência, Adão e Eva caíram de seu estado original de justiça para a corrupção moral. Seus corações e mentes não eram mais puros, mas se tornaram maculados e vergonhosos. As coberturas que eles fizeram com folhas de figueira foram uma tentativa impotente de esconder sua vergonha, seu pecado, e sua corrupção. (b) O pecado sempre resulta em medo e separação de Deus. O homem pecaminoso foge da santa presença de Deus e teme Seu justo julgamento.

4. Tendo considerado os resultados imediatos da desobediência de Adão, vamos agora considerar os julgamentos divinos que caíram sobre a serpente, Eva, e Adão. Leia Gênesis 3:14-24 e então descreva tais julgamentos que afetaram a todos nós:

a. O Julgamento Divino sobre a Serpente (vs. 14-15):

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b. O Julgamento Divino sobre a Mulher (v. 16):

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Nota: A frase: “Teu desejo será para teu marido,” pode descrever uma das seguintes opções: (1) O relacionamento da mulher com seu marido seria marcado pelo anelo e a falta de satisfação. (2) A mulher que buscou independência de Deus agora teria um desejo exagerado ou uma ânsia pelo homem. (3) O relacionamento entre o homem e a mulher seria marcado pelo conflito; a mulher “desejaria” dominar seu marido, e seu marido exerceria seu “domínio” sobre ela. A terceira interpretação parece especialmente provável à luz de uma construção de palavras similar em Gênesis 4:7: “Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.

c. O Julgamento Divino sobre o Homem (vs. 17-19):

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5. No divino julgamento sobre a serpente em Gênesis 3:14-15 é encontrada uma das maiores promessas da salvação em toda a Bíblia (v. 15). Esta promessa foi chamada de protoevangelho [Latim: proto, primeiro + evangelium, evangelho]. Escreva seus comentários sobre este texto.

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Nota: Jesus Cristo é a eventual “semente” ou descendência da mulher. Na cruz, Satanás feriu o calcanhar de Cristo (isto é, Cristo foi ferido, mas não mortalmente; Ele ressuscitou dos mortos). Através da mesma cruz, Cristo feriu a cabeça de Satanás (isto é, Satanás foi ferido mortalmente; ele foi derrotado para sempre).

Questões Importantes Sobre a Queda

O registro das Escrituras sobre a queda fornece a única explicação adequada para o presente estado decaído do homem e o mal que nos cerca. É também mediante este plano de fundo tenebroso que as resplandecentes glórias da misericórdia e da graça de Deus surgem. Nossa compreensão mínima das glórias de Cristo e Seu Evangelho é diretamente proporcional ao nosso entendimento da tragédia de Adão e sua condenação.

Em nosso estudo da queda, nos deparamos com algumas das questões mais importantes e complexas de todas as Escrituras: a origem do mal, a natureza da liberdade humana, a soberania de Deus, e Seu eterno propósito. Ainda que o que conhecemos a respeito de tais questões será sempre envolto em um determinado grau de mistério, é necessário que nos esforcemos por conhecer o que pudermos. Façamos as seguintes questões:

Como Adão pôde cair?

Deus ordenou a queda?

Qual o propósito eterno de Deus na queda?

 

COMO ADÃO PÔDE CAIR?

As Escrituras afirmam que a queda não ocorreu devido a nenhuma falha no Criador. Todas as obras de Deus são perfeitas (Deuteronômio 32:4), Ele não pode ser tentado pelo pecado (Tiago 1:13), nem pode Ele tentar outros com o pecado (Tiago 1:13). A culpa pela queda repousa perfeitamente sobre os ombros de Adão. Como Eclesiastes 7:29 declara: “Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.”

Esta verdade apresenta um dos maiores problemas teológicos em todas as Escrituras: como é possível que uma criatura criada à imagem de Deus veio a escolher o mal e o pecado? Adão e Eva tinham uma verdadeira inclinação para o bem, e não havia nenhuma corrupção ou mal neles para qual a tentação pudesse apelas. Como tais justos seres puderam escolher o mal ao invés do bem, e escolher as palavras de uma serpente ao invés das ordens de seu Criador, está além da compreensão humana.

Houve numerosas tentativas ao longo da história de explicar a queda de Adão, mas nenhuma delas deixa de ter suas limitações. Devemos, portanto, nos contentarmos com a simples verdade da Escritura que, embora tenha Deus feito o homem justo e santo, ele era finito e mutável (isto é, sujeito a mudança) e capaz de fazer uma escolha contrária à vontade de Deus.

DEUS ORDENOU A QUEDA?

A palavra ordenar significa colocar em ordem, dispor, ou designar. Perguntar se Deus ordenou a queda é perguntar se ele a colocou em ordem, a dispôs, designou que ela ocorresse. Outras palavras que carregam significado similar são: “decretar”, “predeterminar”, e “predestinar”. Deus determinou de antemão ou decretou que a queda deveria ocorrer? A resposta para esta pergunta é “sim”, mas nós devemos ter muito cuidado com o que isto significa e o que isto não significa.

A ordenança de Deus da queda não significa que Ele forçou Satanás a tentar nossos primeiros pais, ou que Ele os coagiu a desprezar Sua ordem. O que as criaturas de Deus fizeram, elas fizeram por sua própria vontade. Deus é santo, justo, e bom. Ele não peca, não pode ser tentado pelo pecado, Ele não tenta ninguém ao pecado.

A ordenança de Deus da queda significa que isto era certo de acontecer. Foi da vontade de Deus que Adão fosse testado, e foi da vontade de Deus deixar que Adão tanto se mantivesse de pé quanto caísse sozinho sem o auxílio divino que poderia tê-lo impedido de cair. Deus poderia ter impedido que Satanás dispusesse a tentação diante de Eva, ou à face de tal tentação, Ele poderia ter dado a Adão uma graça sustentadora especial para capacitá-lo a triunfar sobre ela. A partir do testemunho das Escrituras, entendemos que Ele não fez isso.

A ordenança de Deus da queda também significa que ela foi parte de Seu plano eterno. Antes da fundação do mundo, antes da criação de Adão e Eva e a serpente que os tentou, antes da existência de qualquer jardim ou árvore, Deus ordenou a queda para Sua glória e o bem maior de Sua criação. Ele não meramente permitiu que nossos primeiros pais fossem tentados e então esperou para reagir a qualquer escolha que eles viessem a fazer. Ele não meramente olhou através dos corredores do tempo e viu a queda. Mas a queda era uma parte do plano eterno de Deus, e Ele predeterminou ou predestinou que ela deveria e iria acontecer.

Neste ponto, uma questão muito importante surge:

“Deus é o autor do pecado?”

Esta questão pode e deve ser respondida com uma forte negativa. Deus não é o autor do pecado, nem coage o homem a pecar contra Ele. Embora Ele tenha predeterminado que a queda deveria e iria acontecer, Ele também predeterminou que ela deveria acontecer através das ações voluntárias de Satanás, Adão e Eva. Ainda que nossas mentes finitas não possam compreender plenamente como Deus pode ser absolutamente soberano sobre todo evento da história e sobre cada ato individual sem destruir a liberdade individual, as Escrituras abundam em exemplos que demonstram que isto é verdade. José foi vendido à escravidão através do pecado deliberado de seus irmãos, e ainda assim, quando a história final foi contada, José declarou: Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida” (Gênesis 50:20 AA). O Filho de Deus foi crucificado como o resultado do pecado deliberado do homem e a hostilidade para com Deus, e ainda assim Deus ordenou ou predeterminou a morte de Cristo antes da fundação do mundo. Nas Escrituras nós lemos:

“… sendo este [Jesus] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mão de iníquos.” -Atos 2:23

“Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram.” -Atos 4:27-28

A partir das Escrituras, nós vemos que Deus ordena ou predetermina um evento para que ele ocorra e ainda assim faz com que ele aconteça através do pecado deliberado do homem. Ele faz isso sem que seja o autor dos pecados dos homens ou coagindo-os para que o façam sem que seja da vontade deles. Homens ímpios deliberadamente pregaram Jesus Cristo à cruz e foram responsáveis por suas ações, mas o evento inteiro estava de acordo com o plano predeterminado de Deus. A queda de Satanás, e a queda da raça humana mais tarde através de Adão e Eva, foram resultados de seus próprios pecados pelos quais apenas eles são responsáveis, e ainda assim os eventos aconteceram de acordo com o ordenado, predeterminado, predestinado plano de Deus. Deus decretou um grande propósito eterno para Sua criação, e ordenou cada evento da história pelos quais tal propósito está sendo cumprido. Nada, nem mesmo a queda do homem ou a morte do Filho de Deus, ocorre à parte do decreto soberano de Deus.

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” -Romanos 11:33-36

“…nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade…” -Efésios 1:11

QUAL O PROPÓSITO ETERNO DE DEUS NA QUEDA?

Tendo demonstrado que a queda foi resultado da desobediência deliberada da criatura e ainda assim de acordo com o eterno propósito de Deus, agora é necessário que nos esforcemos por conhecer tal propósito eterno. À luz do mal e do sofrimento que resultaram da queda, pode parecer difícil aceitar que possa ter havido qualquer bom propósito nela. Todavia, a Palavra de Deus nos assegura que existe tal propósito.

Sabemos a partir das Escrituras que a criação do universo, a queda do homem, a nação de Israel, a cruz de Cristo, a Igreja, e o julgamento das nações têm um grande e derradeiro propósito: Que a plenitude dos atributos de Deus seja revelada a Sua criação e que toda a criação O conheça, O glorifique, e deleite-se plenamente n’Ele como Deus.

A Plena Revelação dos Atributos de Deus

Deus criou o universo para ser um teatro sobre o qual Ele possa exibir a infinita glória e valor de Seu ser e seus atributos, para que Ele seja plenamente conhecido, adorado, e apreciado por Sua criação. Foi dito por muitos que a queda do homem é o céu negro sobre o qual as estrelas dos atributos de Deus brilham com a maior intensidade de glória. É apenas através da queda e o advento do mal que a plenitude do caráter de Deus pode ser verdadeiramente conhecida.

Quando um Cristão adora a Deus, quais são os atributos que lhe parecem mais queridos? Não são a misericórdia, a graça e o amor incondicional de Deus? Não são estes atributos divinos mais exaltados em todos os grandes hinos da Igreja? Mas como estes atributos poderiam ser conhecidos senão através da queda do homem? O amor incondicional somente pode ser manifesto sobre homens que não correspondem às condições. A misericórdia somente pode ser derramada do trono de Deus sobre homens que merecem a condenação. A graça somente pode ser concedida a homens que não fizeram nada para merecê-la. Nossa decadência é nosso feito, pelo qual somos obrigados a assumir plena responsabilidade. Ainda assim é através do teatro negro de nossa decadência que a graça e a misericórdia de Deus são postas no centro do palco e brilham sobre um público tanto de homens quanto de anjos. É na salvação dos homens caídos que a sabedoria, a graça e a misericórdia de Deus são reveladas, não apenas ao homem, mas também a todo ser criado nos céus, na terra e no inferno.

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. -Efésios 2:4-7

A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais. -Efésios 3:8-10

A Plena Revelação das Glórias de Cristo

A maior obra de Deus é a morte e a ressurreição do Filho de Deus para a salvação do povo de Deus. Contudo, se o homem não tivesse caído, não haveria Calvário e nem Salvador. A própria coisa que mais elucida a Deus (João 1:18), nos atrai para Ele (João 12:32), e faz com que O amemos (1 João 4:10, 19) desapareceria. O que tomaria seu lugar? Que outros meios poderiam ter sido usados para demonstrar as imensuráveis misericórdias de Deus? Cristo crucificado é o grande tema de todo digno hino, sermão, conversação, e pensamento cristãos. Sem a queda, a redenção seria desconhecida a nós. Nós seríamos como os anjos, anelando perscrutar algo que nós nunca poderíamos experimentar (1 Pedro 1:12).

É errado, e beira a blasfêmia, até mesmo insinuar que a cruz de Cristo foi um mero Plano “B” que foi posto em prática somente por causa da escolha errada de Adão no jardim. A cruz é o evento principal para o qual qualquer outra obra da providência de Deus aponta. Todas as coisas permanecem em sua sombra. De uma forma, a cruz foi necessária por causa da queda, mas por outro lado, a queda foi necessária para que as glórias de Deus na cruz de Cristo pudessem se dar a conhecer plenamente.

A Plena Revelação da Dependência da Criatura

Uma das verdades mais impressionantes sobre Deus é que Ele é absolutamente livre de qualquer necessidade ou dependência (Atos 17:24-25). Sua existência, o cumprimento de Sua vontade, e Sua alegria ou beneplácito não dependem de nada nem ninguém fora de Si mesmo. Ele é o único ser que é de fato autoexistente, autossustentado, autossuficiente, independente e livre. Todos os outros seres derivam suas vidas e felicidades de Deus, mas Deus encontra tudo o que é necessário para Sua própria existência e perfeita alegria em Si mesmo (Salmo 16:11; Salmo 36:9).

A existência do universo requer não apenas o ato inicial da criação, mas também o contínuo poder de Deus para sustentá-lo (Hebreus 1:3). Se Ele retirasse Seu poder mesmo por um momento, tudo se tornaria caos e destruição. Esta mesma verdade pode ser aplicada ao caráter dos seres morais, quer sejam anjos ou homens. Adão no paraíso e Satanás no céu, ainda que tenham sido criados justos e santos, não poderiam permanecer em pé à parte da graça sustentadora de um Deus Todo-Poderoso. Quão menos somos nós capazes de permanecer em pé e quão mais rapidamente cairíamos à parte da mesma graça sustentadora? A queda, portanto, fornece o maior exemplo de nossa constante carência de Deus. Se não podemos continuar nossa existência além de nosso próximo fôlego exceto pela preservação de Deus, quão menos somos capazes de manter qualquer aparência de justiça diante d’Ele à parte de Sua graça? (João 15:4-5; Filipenses 2:12-13)


Copyright © por Paul David Washer, Sociedade Missionária HeartCry. Website: heartcrymissionary.com

Publicado por Granted Ministries Press, uma divisão de Granted Ministries. Website: grantedministries.org

Tradução:Voltemos ao Evangelho.

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

 


13 janeiro 2010

Jonathan Edwards - Biografia

Raízes

Em novembro de 1620, os assim chamados "pais peregrinos" puritanos que deixaram a Inglaterra, desembarcaram do Mayflower na baía do Cape Cod, Plymouth, Nova Inglaterra. Eles haviam deixado a Inglaterra em razão de perseguições sofridas por se oporem fortemente, tanto a maneira de culto, como de governo que vinham permanecendo na igreja inglesa. Eram 41 homens e suas famílias, cerca de 100 peregrinos, número este que, dentro de 20 anos aumentaria para mais de 20 mil, quando reunidos em uma praia da baia de Massachussets.

O grande interior deste território era praticamente desconhecido. Mas isso não impediu que o eminente pregador puritano Thomas Hooker partisse para a direção oeste da baía em junho de 1636. Pelo espaço de aproximadamente 15 dias, parte do povo que o seguira, de mais ou menos 100 pessoas, caminhou até alcançar Connecticut. Estabeleceram-se então ali, em um lugar que eles nomearam Hartford. Em uma pequena distância ao norte deste local ficava Windsor, onde haveria de nascer o grande Jonathan Edwards.


Como Benjamim Trumbull escreveu a respeito de Connecticut: "Naquela época este território era apenas um vasto deserto. Ali não havia campos agradáveis, nem jardins, nem estradas públicas, nem pedaços de terra limpos". Em outras palavras, todo aquele lugar se resumia em floresta, água, ou mata queimada e destruída pelos índios, em razão das perseguições a veados e de outros jogos que ocorriam naquela época.

Entre aqueles que viajaram com Hooker estava Ann Coles que, com seu marido, havia trocado as superlotadas ruas da capital da Inglaterra, por esta fronteira colonial. No período de 1620, quando o Mayflower chegou a Plymouth, ela ainda vivia em Londres como a esposa de Richard Edwards que fora um clérigo nativo do País de Gales e mestre de ensino trabalhando na Ratcliffe Free School até sua morte repentina em 1625. Então Ann casou-se com James Coles e, nos 18 anos de seu filho, Willians Edwards, fruto do primeiro casamento, os três viajaram juntos para a Nova Inglaterra, hoje Estados Unidos.

Eles, porém, não viajaram sozinhos, mas na companhia daqueles que encontraram um lugar desabitado na América onde tiveram a oportunidade de gozar a prática da pura adoração do Senhor Jesus Cristo, algo que os puritanos tanto almejavam.

Willians Edwards foi a primeira geração da linhagem dos Edwards na Nova Inglaterra. Ele seguiu o comércio. Já o filho de Willians, nascido em 1647 foi o avô de Jonathan. Seu nome era Richard Edwards, homem que, na sua velhice, aos 71 anos de idade, haveria de ser um comerciante moderadamente próspero e que lutaria pela estabilização do comércio da cidade. E em sua morte, deixaria um patrimônio que refletia seu sucesso como homem de negócios. Isso não significa que teve vida fácil, mas era um homem que não se deixava abater pelas provações e que possuía a fidelidade, a vigilância e a humildade de um verdadeiro adorador.

Em 1667 Richard casou-se com Elizabeth Tuttle, que foi sua maior provação. Eles eram um casal aparentemente singular, até Elizabeth dar à luz a um filho de outro homem, posto que recorrera repetidas vezes a infidelidade conjugal nos anos que se seguiram. Mais tarde este fato foi associado com evidência de insanidade.

Timothy Edwards, filho do casal, nada notificou a respeito de sua mãe, mas tinha uma profunda admiração pelo caráter de seu pai: "Ele era naturalmente alegre, esperto e de temperamento agradável, de hábil leitura e que possuía mente vasta e criativo conhecimento, particularmente de história e teologia, e em conversa era, de forma incomum, agradável e divertido".

Mas foi como um cristão que Timothy veio amar mais a seu pai: "Na presença de Deus ele não comparecia somente para crer, mas para o encanto e prazer... nas orações ele semeava para colher a proximidade com Deus... seus sentimentos sobre a religião eram de sujeição e afetuosos...".

Quando Timothy deixou pela primeira vez o seu lar, em 1687, para o Harvard College, seu pai deu-lhe todo o encorajamento. Em uma ocasião ele escreveu: "Você pode esperar encontrar dificuldades, mas Deus é ainda Todo Suficiente; Deus é o mesmo em todos os lugares e em todas as condições". Timothy certamente precisou de encorajamento. Seu nome foi difamado em Harvard, em função de suas dificuldades familiares. Em 4 de julho de 1691, porém, graduou-se com a Harvard Class, recebendo, ao mesmo tempo, dois graus juntos, os de Bacharel e Mestre em Artes, em razão da correção de um mal entendido que ocorrera.

Em algum momento daqueles anos em que Timothy fora estudante, encontrou sua futura esposa, Esther Stoddard, que seria a mãe de Jonathan Edwards. Ela pertencia a uma família incomum e respeitada, possuindo um dos nomes mais respeitados da Nova Inglaterra. Os Stoddard eram líderes em várias terras, até chegar na geração de seu pai, Solomon Stoddard, que já havia começado o seu eminente ministério em Northampton em 1669 como pastor de uma Igreja Congregacional.

Até então Northampton tornara-se a mais ampla cidade do interior de Massachussets e o púlpito de Solomon Stoddard, uma das maiores influências na colônia inteira. E quando George Whitefield, o grande pregador evangelista, visitaria a Nova Inglaterra em 1740, a fama de sua pregação ainda era matéria de conversa comum.

Em 1694 Timothy foi convidado por uma paróquia em Windsor para iniciar seu ministério. Em 6 de novembro do mesmo ano, casou-se com Esther Stoddard em Northampton e, 8 dias mais tarde, eles foram para Windsor.

 

Timothy tinha 25 anos e Esther 23. E, em março de 1695 ele foi ordenado como pastor. Foi um período que serviu profundamente para confirmar seu chamado. Então, no dia 5 de outubro de 1703, nesta mesma cidade de East Windsor, nasceu Jonathan Edwards. Quatro irmãs, Esther, Elizabeth, Ann e Mary, teriam vindo antes dele. E outras seis estariam para vir depois. Enfim, Jonathan Edwards seria o único filho homem entre as suas dez irmãs.

DA INFÂNCIA À FORMAÇÃO

Timothy Edwards exerceu grande influência na educação de seus filhos. Desde cedo Jonathan já convivia com os problemas e dificuldades do ministério pastoral de seu pai. Por parte de seu pai, Jonathan herdou o vigor de entendimento, a vivacidade, a disposição, a disciplina e coisas desse gênero. De sua mãe, absorveu a gentileza, a nobreza e a educação.

Jonathan Edwards desde muito cedo aprendeu o respeito e a reverência pelas coisas de Deus no seu lar. A exemplo disso, sua mãe, depois de 20 anos de casamento, ainda possuía um zelo tão grande acerca das coisas celestiais que tinha receio e temor de professar sua fé em Cristo publicamente. Na verdade Esther Edwards pertencia a uma tradição que possuía um grande medo de uma conversão superficial e prematura. Diga-se de passagem, que era uma tendência extrema oposta a dos dias de hoje, quando se apela emocionalmente para decisões precipitadas, mesmo antes de se ter apresentado o sólido conteúdo do Evangelho em uma pregação. Não deve haver dúvida de que ela era singularmente piedosa, antes mesmo de experimentar a força da segurança de sua própria salvação. E de fato Esther influenciou muito seu filho com sua misteriosa e profunda espiritualidade e devoção, sua paixão pelos livros e seu conhecimento teológico.

Timothy possuía conhecimento do grego e do latim clássicos, que sempre estavam ao lado da Bíblia. Se interessava por poesia e pelo estudo da natureza - isso foi assimilado por Edwards, pois apreciava a beleza da natureza. Este ficava fascinado nos fins de agosto e inicio de setembro quando via a abundância dos insetos voando, inclusive a borboleta e a mariposa. Portanto, a admiração de Edwards pela Criação começou na sua infância em East Windsor para culminar em um bom observador da natureza.

Aos 12 anos chegaria até a escrever um ensaio sobre os hábitos das aranhas, baseado em suas próprias observações, o que revela um gênio indutivo e empírico de primeira ordem. O Dr. McCook, autor de uma monografia sobre o assunto, confessa ter aprendido com o "maestro Jonathan Edwards", que já havia descrito 150 anos antes o que ele pensara haver descoberto.

Já o professor Benjamim Silliman, falando sobre Edwards, assim se expressou: "Se ele tivesse se dedicado à ciência física, poderia ter havido outro Newton na extraordinária época em que começou sua carreira". Segundo Stob, "Jonathan não se entregou à física, não pela incapacidade para tais estudos, mas por uma profunda convicção de que a física e o externo tem pouco peso comparado ao interno e espiritual".

Mas seu pai, de fato, lhe ensinou muitas coisas e teve uma larga influência sobre sua educação. Seu método educacional era comum naqueles dias. Com a idade de 7 anos, Edwards já memorizava o latim. Mas esse treinamento era balanceado com o encorajamento para um auto-empenho e para a iniciativa individual. Toda palavra deveria, além de ser recitada, escrita de forma acurada, posto que Timothy tinha a escrita como essencial. O hábito de escrever foi transmitido desde sua tenra infância, para permanecer com ele por todos os seus dias de existência. Quando estava próximo de completar seus 8 anos de idade, Jonathan experimentou sua primeira grande crise de infância no lar. Foi em 1711, quando eclodiu um conflito de interesses entre britânicos e franceses na América do Norte. Isso trouxe conseqüências no lar da família Edwards, porque Timothy foi convocado para servir de capelão. Este fato, naturalmente, afetou Jonathan em seu aprendizado no lar. Por outro lado, ele aprendeu muito com a vida ministerial de seu pai. Começou a perceber que o pastorado de uma Igreja traz consigo problemas inevitáveis. Entre a idade de 7 e 11 anos, Edwards viveria um considerável conflito na paróquia de seu pai. O conflito se deu em razão da necessidade de um novo local para as reuniões. A construção original havia sido submetida a algumas melhorias, mas se tornara pequena por causa do crescimento da congregação. Mas depois de muitos conflitos, tudo acabou se resolvendo em 1714, quando o novo local de reuniões foi terminado. A nova construção haveria de ser concluída ao lado da construção original e ali estaria situada.

No curso do ministério de Timothy, houve numerosas dificuldades paroquiais: na questão dos rendimentos, na questão da autoridade dos ministros e principalmente na questão do governo da Igreja. O acordo original de todas as igrejas da Nova Inglaterra era estritamente congregacional, sendo que cada congregação possuía completa liberdade e independência, investida do poder de decisão. Mas as congregações possuíam ministros de tal autoridade pessoal e prestígio que, sua posição de liderança raramente era desafiada pelo poder da fraternidade.

Desta forma, nesta diferente época de decisão, Timothy foi, como outros ministros, forçado a enfatizar a prerrogativa de líder, estando já avançado em East Windsor, quanto a esse particular. Na verdade, estava sendo introduzido uma espécie de autoritarismo clerical, algo que não era visto 50 anos antes.

Em 1630 as paróquias haviam sofrido juntas em razão de sua fé. Neste ano, Connecticut possuía somente 4 cidades e cerca de 800 pessoas. Mas no fim deste mesmo século, as cidades de Connecticut tinham crescido para 30 e a população aumentado para 30 mil. Nos trinta anos que se seguiram, anos da juventude de Jonathan, o crescimento populacional foi notavelmente rápido.

Este crescimento populacional trouxe, como conseqüência, a queda do padrão da membresia nas paróquias e muitos não tinham ligação com igrejas. A espiritualidade dos membros caiu consideravelmente e, tinham uma atitude diferente com relação à autoridade dos pastores. É muito interessante notar o quanto um cristianismo meramente nominal na membresia das igrejas afeta o respeito à autoridade dos líderes espirituais. Consequentemente a idéia de controle popular versus comando de uma elite já estava começando a encontrar suporte nas igrejas. Não se tinha uma visão espiritual do ofício do pastor, nem da postura dos membros, agora havia um ponto de vista diferente de ambos. E os líderes ministeriais acreditavam que esse declínio espiritual fez aumentar a dúvida da competência da congregação local para o governo em seus próprios assuntos.

O resultado foi que, por um lado, não se desejava uma democracia popular e, por outro lado, não se queria um prelado independente, não obstante, dando espaço para o presbiterianismo. Daí, começaria a se formar uma espécie de associação, onde ministros eram encarregados do exercício de supervisão mútua da Igreja como um todo.

Em meio a todos esses conflitos, Edwards permanecia observando, aprendendo, crescendo e, em sua juventude, vivia ocasiões que contribuiriam para sua futura formação. Esses problemas fundamentais eram profundos e, na questão do governo da Igreja, muitas vezes os próprios ministros eram parte do problema. Nas palavras de Richard Webster: "Uma vasta mudança era visível nas igrejas de Nova Inglaterra: A disciplina era relaxada, a doutrina era diluída, e a pregação era dócil e superficial".

Mas essa condição extrema não era universal. Além de Jonathan Edwards não ser de conflitos paroquiais, em East Windsor, tanto na Igreja como no lar, ele experimentou um pouco do genuíno avivamento da religião. Havia ocasiões em que a presença de Deus era especialmente evidente na comunidade. Quando o senso da eternidade se enfraquecia, de repente uma extraordinária seriedade espiritual penetrava a paróquia como um todo.

Numerosos cristãos nominais passavam da morte para a vida, enquanto outros cristãos regozijavam-se na completa segurança da fé. No final de sua vida, escrevendo sobre essa época, Edwards disse: "A Paróquia de meu estimado pai tinha, em ocasiões, sido um lugar bastante favorecido com as misericórdias dessa natureza, no lado oeste da Nova Inglaterra, exceto Northampton, que experimentou 4 ou 5 derramamentos do Espírito para um despertamento geral do povo".

Jonathan viveu 2 períodos de reavivamento em sua infância. Falando de sua experiência pessoal ele escreve: "Eu tive uma diversidade de inquietações e exercícios acerca de minha alma na infância; mas tive duas ocasiões mais notáveis de despertamento, antes de encontrar aquela mudança pela qual fui conduzido, para estas novas disposições, este novo senso das coisas, que tenho tido desde então. O primeiro momento foi quando eu era menino, alguns anos antes de ter ido para o colégio, em uma ocasião de despertamento na congregação de meu pai. Fui então muitíssimo afetado por muitos meses, e inquietado acerca das coisas da religião, e da salvação da minha alma... experimentei e não conhecia aquele tipo de deleite na religião.

 

Minha mente estava muito engajada nisto, tinha muita satisfação em minha própria justiça, e foi meu prazer abundar nos deveres religiosos. Eu e alguns dos meus colegas de escola nos unimos e juntos construímos uma barraca em um brejo, em um sítio bem retirado, para ser um lugar de oração. E, além disso, eu tinha um local particular e secreto propriamente meu na floresta, onde eu usava para retirar-me, e fui durante um tempo muito afetado. ..".

Em outubro de 1716, antes de completar seus 13 anos, Jonathan Edwards ingressou no Yale College. O Dr. Alderi comenta que, "aos treze anos ele já havia adquirido um respeitável conhecimento de grego e de hebraico". Timothy, seu pai, havia estudado no Harvard College. E antes de 1701 o Harvard College era o campo de treinamento para os estudantes da colônia. A visão dos fundadores era que cada um pudesse considerar, como principal fim de sua vida e estudos, conhecer a Deus em Jesus Cristo. Mas Timothy já havia experimentado na prática a atmosfera deste colégio e teve suas razões de ter medo, pois de fato, a vida intelectual da Inglaterra seria afetada pelo crescimento da secularização. Apesar do Collegiate School of Connecticut ter sido freqüente matéria de debate no lar de Jonathan Edwards, era uma velha escola de tradição puritana, onde ele certamente ficaria seguro das influências da secularização.

Os fundadores da escola não negavam estas verdades, ensinando a teologia prática do sabath, apoiando-se na doutrina da confissão de Westminster, em todos os caminhos com a melhor discrição e em todo tempo com esmerado empenho na educação dos estudantes. E tudo isso para promover o poder e a pureza da religião e a melhor edificação das igrejas da Nova Inglaterra. Portanto, Timothy não hesitou em prezar por Yale (pois o Colegiate School of Connecticut mais tarde seria chamada Yale College).

Na época em que Edwards estava preparado para começar seus estudos, a escola ainda não tinha lugar específico nem definido. A escola funcionava de acordo com a localização dos tutores, até encontrarem um lugar permanente. Houve vigorosa disputa pela honra de receber as instalações do colégio. Não se sabia se em Saybrook ou New Haven, se em Wethersfield ou Hartford. Então no dia 12 de setembro de 1716, quando o nome de Jonathan Edwards estava entre os primeiranistas e a escola funcionava em New Haven, os administradores se encontraram em Saybrook a fim de determinarem o local das instalações. No entanto a conclusão ainda não seria tomada e Edwards, com mais nove primeiranistas da cidade do rio Connecticut, uniram-se a um grupo já estabelecido em Wethersfield. Nesta época estava em voga a "nova filosofia" e nomes como o de Descartes, Boyle, Locke e Newton. E era dito que isso traria uma corrupção da pura religião. Aos 13 anos de idade Jonathan leria a famosa obra de John Locke "Ensaio Sobre o Entendimento Humano" - que exerceria uma poderosa influência sobre ele. Locke foi um filósofo inglês cujas idéias exerceram grande influência sobre a política e a filosofia.

Jonathan Edwards, entre outras coisas, se tornaria um grande metafísico. James Wardsmith afirmou que somente Jonathan, dentre todos os teólogos norte-americanos dos séculos XVIII e XIX, entendia o espírito mais profundo bem como o conteúdo superficial da nova ciência associada com Newton e Locke. Segundo Edwards, descobrir as razões das coisas na filosofia natural é descobrir a proporção da atuação de Deus. Manoel Canuto disse que Edwards: "Nas afirmações éticas, zelava contra a nova filosofia moral do iluminismo do século XVIII que afirmava serem os seres humanos possuidores de senso natural que, se fosse cultivado pela educação, poderia mostrar o caminho para uma vida virtuosa". Mas sobre isso Jonathan reagiria dizendo que a vida verdadeira não poderia existir sem Deus e a revelação.

Este período foi marcado por crises acadêmicas que durariam até a assembléia geral de Connecticut, em outubro de 1718. Ali foram tomadas medidas conciliatórias que fizeram com que Edwards e outros se unissem a classe de terceiro ano em New Haven também em outubro.

Pouco subsiste sobre a vida de Jonathan Edwards nesta época, exceto uma carta, escrita por ele, a sua irmã Mary que estava em Northampton. A expectativa desta carta fora satisfeita com a remoção de todos os estudantes de Wethersfield para New Haven no início do verão de 1719.

No Yale College a instrução na doutrina cristã fazia parte do curriculum semanal. Jony Wollebius e Willian Ames eram autores chaves da literatura e a Assembléia de Westminster e o breve catecismo eram recitados cada sábado à noite. Quando Edwards tinha 16 anos, em 1719, recebeu 16 honras, sendo ele um estudante ainda não graduado. E entre aqueles que receberam o Bacharelado em Artes, seu nome estava em destaque. Após este período, ele continuou seus estudos por mais dois anos em New Haven, para mais tarde receber, também com destaque, a graduação de Mestre em Artes.

Foi neste tempo, aproximadamente em maio ou abril de 1721 que Edwards experimentou sua conversão. Sobre isso ele destaca: "O primeiro momento que eu me lembro daquele tipo de deleite interior em Deus e nas coisas divinas, e, desde então tenho experimentado isso, foi na leitura daquelas palavras de 1Timóteo 1:17. "Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém." Na medida em que eu lia as palavras, veio em minha alma, como se estivesse derramado por toda ela, um senso da glória do Ser Divino; um novo senso, muito diferente de qualquer coisa que eu tenha experimentado antes. Nunca outras palavras da Bíblia pareceram iguais a estas palavras. Eu pensei comigo mesmo, quão excelente aquele Ser era e quão feliz eu deveria ser se eu pudesse desfrutar daquele Deus e ser levado para Deus no Céu e ser de fato envolvido por Ele. Eu continuei dizendo e, de fato, cantando estas palavras da Bíblia para mim mesmo; e fui orar, orar a Deus para que eu pudesse desfrutá-Lo, e orei de uma maneira realmente diferente daquela que costumava fazer, com um novo tipo de afeição.

Mas nunca veio ao meu pensamento que aquilo era algo espiritual, ou de uma maneira salvadora. A partir daquele tempo, eu comecei a ter um novo tipo de compreensão e idéias a respeito de Cristo, e da obra da redenção e do glorioso caminho da salvação através Dele. Eu tinha um doce senso interior destas coisas, que, às vezes, vinham ao meu coração; e a minha alma era conduzida em agradáveis vistas e contemplações delas. E a minha mente estava grandemente engajada em gastar meu tempo em ler e meditar sobre Cristo; e a beleza e a excelência de Sua pessoa, e o amável caminho da salvação, pela livre graça. Nele... Este senso que eu tinha das coisas divinas freqüentemente e repentinamente se inflamava, como uma doce chama em meu coração; um ardor de alma, que eu não sei como expressar" (1617).

Edwards concluiu sua tese de mestrado no verão de 1723 e no outono recebeu seu título de Mestre em Artes pelo Yale College

DO MINISTÉRIO À MORTE

Seu ministério pode ser dividido em 3 partes. Primeiramente Edwards teve uma experiência de 8 meses como pastor em New York. Em segundo lugar vem o pastorado da igreja de seu avô em Northampton em 1726, na qual permaneceria os próximos 23 anos de seu ministério. E em terceiro lugar Stockbridge, uma região remota da colônia de Massachussets, onde trabalhou como pastor dos colonos e missionário entre os índios.

De fato uma grande mudança de interesses ocorreu na vida de Edwards no tempo de sua conversão. E apesar de concluir e receber o grau de mestrado só em 1723, em 1722 ele já estava licenciado para o trabalho do ministério. Na ocasião ele tinha 19 anos.

Veio então uma solicitação pedindo um pregador para suprir uma nova congregação em New York. Foi recomendado exatamente o nome de Edwards. O convite foi aceito e no início de agosto de 1722 ele começou a pregar regularmente nesta congregação de New York.

O que ele mais queria era gozar a Palavra de Deus. Mais tarde ele escreveria: "Eu tinha então, e depois disso, o maior deleite nas Santas Escrituras e em alguns outros livros. Tempos depois, a leitura de cada palavra parecia tocar meu coração. Eu sentia harmonia entre algumas coisas em meu coração, doce e poderosamente. Então eu parecia ver muita luz exibida em cada sentença, como um refrescante alimento sendo comunicado, e não podia parar ao longo da leitura, porque possuía uma visão de admiração; residindo na extensão de uma sentença e cada sentença parecia admirável".

Além de ser um tempo em que Edwards perseguiu vigorosamente a santidade, visto que foi neste período que desenvolveu suas resoluções, foi também um tempo em que deu início a uma série de escritos. Como seu pai mesmo o treinara desde muito cedo, ele pensava e estudava com a caneta na mão. Ali escreveu suas miscelâneas e breves análises científicas, seus primeiros sermões e suas resoluções. Em seus sermões ele trabalhava com a tríplice estrutura puritana de um sermão, que continha a explanação do texto, a doutrina e a aplicação. Desta época de fervor de Edwards por buscar as coisas de Deus, quando esteve em New York, ele registra em sua "Narrativa Pessoal": "Muito freqüentemente procurei me retirar para um lugar solitário, às margens do rio Hudson, a alguma distância da cidade, para a contemplação das coisas divinas e secreta conversa com Deus, e tive horas de muita doçura. Às vezes eu e o senhor Smith caminhávamos juntos, para conversar sobre as coisas de Deus; a nossa conversa encaminhou-se muito para o avanço do Reino de Cristo no mundo, e a glória das coisas que o Senhor efetuaria por sua Igreja nos últimos tempos”.

Mas nesse tempo ele não ficou livre das dificuldades. Em seu diário ele fala sobre os dias em que sentiu frieza e a queda daquele calor espiritual. Porquanto havia dificuldades nesta congregação. Ela fora formada em 1716 e seu primeiro pastor tinha sido o reverendo James Anderson. Por motivo de crescimento eles haviam construído na Wall Street, perto da Broadway, em 1719. Mas o fato era que Jonathan Edwards deixaria esta congregação em 1723, depois de 8 meses de trabalho. Acerca disso ele escreve: "Considerando as circunstâncias da sociedade e a vontade de meu Pai, parece mais provável que eu não continuarei aqui, então estou pronto a pensar que partirei na primavera". Portanto por motivos de convicção Edwards deixou a igreja de New York e voltou para East Windsor em abril de 1723. E no verão daquele ano receberia convites de outras igrejas. Foi um período de intenso estudo e crescimento intelectual, dando particular atenção para a conclusão de sua tese de mestrado. E em setembro de 1723 recebeu seu grau de Mestre em Artes e em 1724 foi eleito tutor em Yale. A respeito disso ele escreve: "Agora percebo plenamente que estou debaixo de grande obrigação para amar e honrar meus pais. Tenho grande razão para crer que estes conselhos e educação têm sido minhas realizações".


Foi quando Jonathan atuou como professor assistente no Yale por dois anos. Iain Murray, falando a respeito desse período disse que com a idade de 22 anos Edwards já era maduro para ser dogmático.

Então em 1726, aos 23 anos de idade, ele passou a trabalhar ao lado de seu avô, Solomon Stoddard (1643-1729), como pastor assistente. Esta grande e elegante Igreja Congregacional ficava em Northampton, estado de New Hampshire, e seu avô, o idoso Solomon Stoddard, grande homem de vida eclesiástica do Vale de Connecticut, que com 83 anos de idade, vinha ministrando. Sem exagero pode-se considerar quase uma vida, sendo, pois, um homem muito conhecido e influente em Northampton, cidade de aproximadamente 2000 habitantes. Além disso, Stoddard era o ministro mais velho da província.. A maioria dos membros havia crescido sob o seu ministério. E tirando a congregação de Boston, a sua igreja era a mais conhecida e influente da Nova Inglaterra. Houve época em que esta igreja chegou a ter 620 membros.

O circulo de líderes daquela igreja via a necessidade de alguém para ajudá-lo e em abril de 1725 eles resolveram procurar uma pessoa para assisti-lo em seu trabalho. As ocasionais indisposições de Stoddard já tinham trazido até o púlpito de Northampton a presença de alguns ministros visitantes, um deles seu filho Antony, o mais freqüente e também pastor de Woodbury, Connecticut.

Dos dois filhos do velho pastor que atingiram a fase adulta, somente Antony interessou-se pelo ministério, mas suas cinco filhas, incluindo Esther, a mãe de Edwards, todas casaram com ministros, e alguns dos filhos delas já eram também ministros. A mais proeminente família dos que se uniram aos Stoddard foram os Willians. Cristina Stoddard, 4 anos mais nova do que Esther, havia casado com o reverendo William Willians, um dos mais conhecidos pastores do oeste de Massachussets. O fruto do casamento anterior do reverendo Willians, fora Elisha que havia lecionado para Edwards no Yale. E os dois filhos de Cristian Stoddard e William Willians eram figuras públicas. Eram Solomon (1700-1776) que seguiu seu pai no ministério em Israel (1709-1788) que mais tarde seria o governador de Hampshire. Solomon Willians era a mais aproximada possibilidade de suceder seu avô, Solomon Stoddard. Contudo a Igreja Congregacional de Northampton atentou em trazer Jonathan Edwards, mas apenas para servir de assistente e aparentemente a um período de experiência estipulado. Ele certamente sentiu o peso da responsabilidade. Edwards admirava seu avô. Certa vez ele disse: "Meu avô foi um grande homem, de forte poder mental, de grande graça e autoridade, de um magistral aspecto, linguagem e comportamento". Neste período inicial do ministério de Edwards em Northampton o que sobressai é o seu casamento com Sarah Pierrepont. Eles se casaram no dia 28 de julho de 1727 em New Haven. Como observa Samuel Miller: "Talvez nenhum acontecimento da vida de Edwards tivesse maior conexão com seu conforto posterior do que seu casamento". A primeira vez que Edwards viu sua futura esposa provavelmente tenha sido em uma reunião da primeira Igreja de New Haven. Pierrepont era um nome distinto. James Pierrepont, pai de Sarah, tinha sido ministro da congregação de New Haven de 1685 até sua morte em 1714, era um dos líderes de Connecticut e sua atuação inclui ainda uma proeminente parte na fundação do Yale College.

Sarah tinha 4 anos quando seu pai morreu e com 8 anos ela conheceu a vida e o poder da religião, sendo um raro exemplo de jovem piedosa. Sobre ela Edwards registraria: "Ela possuía uma estranha doçura em sua mente, e singular pureza em suas afeições; é por demais reta e consciente em toda sua conduta; e você não pode persuadi-la a fazer algo errado ou pecaminoso... Ela é de maravilhosa doçura, e de uma mental benevolência universal. Ela vai de um lugar para o outro cantando suavemente. E parece ser sempre cheia de gozo e prazer e ninguém sabe por quê. Ela ama estar sozinha caminhando nos campos e bosques, e parece haver sempre alguém invisível conversando com ela".

A mãe de Sarah, Mary Pierrepont, era neta do famoso ministro Thomas Hooker e o lar em que Sarah havia nascido, no em 9 de Janeiro de 1710, era rico em privilégios espirituais.

Havia júbilo em Northampton no verão de 1727 quando Edwards retornou com sua recente esposa de 17 anos de idade. A congregação já havia estabelecido seu salário, o que possibilitou a eles conduzirem-se ao lar que seria o local dos mais felizes anos de suas vidas. Este salário fez com que Edwards refletisse sobre a importância do ministério cristão, não por causa da quantia ou do rendimento em si, mas pela responsabilidade que ele tinha diante das pessoas e principalmente diante de Deus.

Em agosto de 1728 nasceria Sarah, a primeira filha do casal. Acerca disso ele registrou: "Minha filha Sarah nasceu no dia do Senhor, entre as 2 e 3 horas da tarde". Em fevereiro do ano seguinte, em 1729, o velho e venerado pastor de Northampton, Solomon Stoddard morreu e foi lamentado em toda Nova Inglaterra. O sermão fúnebre foi pregado em Northampton pelo reverendo William Willians, genro do falecido.

Meses antes da morte de seu avô, todas as pregações e responsabilidades pastorais já haviam caído sobre Edwards. Ele tinha que preparar 3 sermões por semana para pessoas bem instruídas e que se acostumaram com um ótimo e renomado ministro e conhecedor de sua congregação. Para suas tarefas Jonathan precisava de cada hora que podia achar. E naturalmente experimentou mais dificuldades nas preparações dos sermões nos primeiros anos do que posteriormente.

Timothy Edwards, seu pai, escreveu para uma de suas irmãs em 12 de setembro do mesmo ano, dizendo que "o povo de Northampton parece ter um grande amor e respeito por ele..." E pelos próximos 21 anos ele seria o único pastor daquela igreja.

Em 1730 Jonathan Edwards iniciou um sermão com as seguintes palavras: "Esta é a maneira de Deus: Antes que Ele confira algum sinal de misericórdia sobre o povo, primeiro Ele prepara-o para isso..." Estas palavras servem de ilustração do que aconteceria com ele durante os próximos anos. E de fato ele estava sendo preparado para algo maior. Suas convicções e afeições estavam sendo preparadas para o que viria. Edwards experimentou fortes convicções. Ele registra: "Desde que vim para esta cidade, tenho tido um doce conforto em Deus, na visão de suas gloriosas perfeições e a excelência de Jesus Cristo. Deus tem me mostrado seu glorioso e amável ser, direcionando-me a consideração de sua santidade. A santidade de Deus sempre tem me mostrado a amabilidade de todos os Seus atributos... e tenho amado as doutrinas do evangelho; elas têm sido para minha alma o gozar de pastos verdejantes. O evangelho tem parecido a mim o mais rico tesouro; o tesouro que eu mais tenho desejado, o maior que pode habitar ricamente em mim. O caminho da salvação por Cristo tem se revelado, em geral, glorioso e excelente, o mais prazeroso e o mais bem-aventurado. Tem parecido a mim que arruinaria o céu, em grande medida, recebê-lo através de outro caminho".

Foi uma época marcada pela intensa convicção de pecado, semelhante ao personagem criado pela alegoria de John Bunyan, posto ser o peregrino alguém que saíra da cidade da destruição rumo à cidade celestial, passando pelo vale da humilhação.

E sob sua poderosa pregação durante o período da década de 1730 o Espírito de Deus foi gerando na congregação uma crescente sensibilidade para com o pecado e um desejo de ouvir o conselho das Escrituras. Edwards escreve sobre a congregação daquela época, mais precisamente um pouco antes dessa crescente sensibilidade, em 1729: "A maior parte parecia estar insensível, naquela época, para com a religião, e preocupada em outros cuidados e projetos. Logo depois da morte de meu avô, a época parecia ser de extrema indiferença para com a religião. A licenciosidade, por alguns anos, prevaleceu entre a juventude da cidade; vários deles gostavam muito de andar à noite, freqüentar a taverna, e praticavam coisas impuras, nas quais alguns, por seu exemplo, corrompiam excessivamente aos outros. Era costume, com muita freqüência, se ajuntarem, para reuniões de ambos os sexos para brincadeiras e gargalhadas, que eles chamavam de diversão; e eles muitas vezes gastavam a maior parte das noites nessas brincadeiras, sem se preocupar com alguma ordem nas famílias às quais pertenciam: e, de fato, o governo familiar falhou muito na cidade. Tornou-se muito comum, para muitos dos nossos jovens, serem indecentes nas suas carruagens ao ir para a reunião, o que teria prevalecido se meu avô, mesmo na sua idade, (ainda que ele tenha retido os seus poderes até o fim) não tivesse sido capaz de observá-los. Tem prevalecido um espírito de contenda entre dois partidos, nos quais por muitos anos eles têm estado divididos; tendo ciúme um do outro, e preparados para se oporem mutuamente em todos os negócios públicos. Muitos dos adultos da congregação foram levados pela busca da riqueza e propriedades, e não pela busca de Deus e de Seu Reino. Exteriormente eles pareciam respeitáveis e ortodoxos, mas interiormente lhes faltava a religião do coração."Este assunto, a religião do coração, se tornaria o tema principal nos escritos de Edwards, algo que ele já viera observando como necessidade de muitos de sua congregação. Como bem colocou Richard Lovalace: "Se eles tivessem tido drogas, eles as teriam usado," pois tal era o estado espiritual daquela igreja.

Seus sermões sobre a justificação pela fé marcaram o começo do grande despertamento. Isso fez com que de fato seus ouvintes percebessem as verdades das Santas Escrituras e sentissem que toda boca ficará fechada no dia do juízo, pois como Jonathan mesmo pregou, não há coisa alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no inferno, senão o bel-prazer de Deus.
Exatamente 8 anos após sua chegada na cidade, Edwards experimentou seu primeiro período de incomum poder espiritual. "Foi no final de dezembro de 1734", disse ele em sua Fiel Narrativa da Surpreendente Obra de Deus "que o Espírito de Deus veio extraordinariamente e maravilhosamente trabalhar entre nós".

Ele disse que: "Um grande e sério interesse acerca das coisas da religião, e da Palavra eterna, tornou-se universal em todas as partes da cidade e entre pessoas de todos os graus e idades. Todos falavam mais a respeito das coisas espirituais e eternas... toda a conversação em todas as companhias e em todas as ocasiões, eram sobre essas coisas somente, exceto a condução normal dos negócios seculares das pessoas, visto ser necessário...”.
Grandes mudanças eram vistas nos encontros da igreja, e sobre isso ele escreve: "Nossas assembléias públicas eram então lindas: a congregação era ativa nos serviços a Deus, cada um era zelosamente atento à adoração pública, cada ouvinte ávido para "beber" das palavras dos ministros, da forma que vinham de sua boca; a assembléia em geral estava, de tempo em tempo, em silêncio enquanto a Palavra era pregada; alguns chorando com tristeza e angústia, outros com alegria e amor e outros com piedade e interesse pelas almas de seus vizinhos.”.

"Nossos louvores públicos eram então grandemente animados, Deus era servido em nossos cânticos de Salmos e em grande medida na beleza de Sua santidade... pessoas, após sua conversão, falavam das coisas da religião como algo novo para elas: que a pregação era algo novo; parecia que nunca tinham visto antes; que a Bíblia era um novo livro; descobriam novos capítulos, novos Salmos, novas histórias, porque eles viam-se sob uma nova luz... lendo o Novo Testamento e interessando-se pelo sacrifício de Cristo pelos pecadores, uma velhinha de 70 anos parecia admirada com o que lia, o quanto era real e muito maravilhoso, mas completamente novo para ela...”. Na avaliação de Edwards, essas pessoas tinham este comportamento, apesar de estarem sob o poderoso ministério de seu avô, ou seja, não eram novas na igreja, contudo todas as coisas pareciam novas e empolgantes. Mas o período de avivamento chegaria ao ápice em 1740, com a vinda de George Whitefield, o famoso pregador que veio da Inglaterra. Ele chegaria à Filadélfia em 1739. Então a pregação de Edwards e o trabalho itinerante de Whitefield foram instrumentos de Deus para dar prosseguimento ao avivamento. E este período de 1740 ficou conhecido na história como o "Grande Despertamento" ou "Grande Avivamento"

Os dois foram grandes amigos. E durante o seu trabalho itinerante em 1739, em New York, Whitefield escreveu para Edwards e iniciou assim sua carta: "Nobre senhor, a notícia de seu sincero amor para com nosso amado Senhor Jesus, encorajou-me a escrever esta carta. Alegro-me pelas grandes coisas que Deus tem feito por muitas almas em Northampton. Espero, querendo Deus, ir e ver-lhes em poucos meses”. O período ministerial de Jonathan que se seguiu ao assim chamado Grande Despertamento foi marcado pela divisão de pensamentos a respeito do reavivamento. Foi quando ele deu particular atenção à defesa do reavivamento. Certamente ele admitiu que havia imprudências e irregularidades, mas disse que imprudências e irregularidades não provarão o fato de um trabalho ser ou não do Espírito de Deus. Isso fez com que ele produzisse uma obra singular acerca do assunto, denominada de Religious Affections (Tratado sobre as Afeições religiosas, publicado no Brasil pela Editora PES sob o título A Genuína Experiência Espiritual).

E o período final do ministério de Edwards em Northampton culminou com sua saída em 1750, depois de 23 anos de ministério ali. Ele foi despedido de sua Igreja e, segundo o Dr. Alderi, a principal razão foi "sua insistência de que somente pessoas convertidas participassem da Ceia do Senhor, em contraste com a prática anterior do seu avô.”.
Nas palavras de J. I. Packer: "Foi desligado do pastorado por insistir em restaurar a exigência, de ser feita uma confissão de fé pessoal como condição indispensável para que alguém se tornasse membro em comunhão com a Igreja".
Segundo o Dr. Martyn Lloyd-Jones: "Ele não batizava os filhos de certas pessoas e insistia num certo padrão de conduta e comportamento nos que deveriam ser admitidos à Ceia do Senhor". Jonathan Edwards foi literalmente despejado de sua Igreja por uma votação de 230 votos contra 23. E O autor de um artigo diz que: "Edwards teve que deixar a Igreja por não abrir mão do princípio de que somente membros professos poderiam ser admitidos à Ceia do Senhor. Era costume daquela Igreja conceder o privilégio de participar da Ceia a qualquer pessoa que desejasse, mesmo que não fosse membro daquela Igreja".

 

Estas são suas últimas palavras de seu sermão de despedida: "Ao buscardes o futuro progresso dessa sociedade, é de maior importância que eviteis a contenda. Um povo contencioso é um povo miserável. As contendas que têm surgido entre nós desde que tenho sido vosso pastor tem sido o fardo mais pesado que tenho carregado no decurso do meu ministério – não somente as contendas que tendes tido comigo, mas aquelas que tendes tido uns com os outros por questão de terras e outros interesses. Eu já sabia muito bem que a contenda, o espírito inflamado, a maledicência e coisas semelhantes, eram frontalmente contrárias ao espírito do cristianismo e têm concorrido, de modo todo peculiar, para afastar o Espírito de Deus de um povo, a tornar sem efeito todos os seus meios de graça, além de destruir o conforto e o bem-estar temporal de cada um. Permita-me que vos exorte com todo o vigor, que, daqui para frente, todas as vezes que vos empenhardes na busca do vosso bem futuro, que vigieis atentamente contra um espírito contencioso: "se quiserdes ver dias bons, buscai a paz e segui-a". 2 Pe 3:10-11. "Permita Deus que a última contenda acerca da Comunhão Cristã, que tem sido a maior de todas, seja também a última de todas. Neste momento, quando estou pregando o meu sermão de despedida; possa dizer-vos o que o Apóstolo Paulo disse aos corínthios: "Finalmente irmãos, adeus, sede perfeitos, sede de um mesmo parecer, vivei em paz e o Deus de Paz seja convosco". 2 Co 13:11". No ano que se seguiu foi para um posto missionário perto de Stockbridge, uma região remota da colônia de Massachussets onde trabalhou como pastor dos colonos e missionário aos índios. O Dr. Martyn Lloyd-Jones comenta que: "Do mesmo modo como o aprisionamento de John Bunyan por 12 anos em Bedford deu-nos os seus clássicos, assim creio eu, esse isolamento de Jonathan Edwards foi o meio pelo qual nos deu algum de seus clássicos".

De lá foi eleito e chamado para ser o novo presidente do College of New Jersey, agora conhecido como Princeton University. Em fevereiro de 1758 viajou para lá a fim de ocupar o seu novo cargo. Mas lá chegando tomou a vacina contra varíola, por ter se oferecido como voluntário para o teste da mesma. A própria inoculação transmitiu-lhe uma febre e ele morreu na tarde do dia 22 de março de 1758, entre as 2 e 3 horas, com 54 anos de idade. Em um jornal da Filadélfia de 28 de março ficou assim registrado: "Nesta quarta-feira do dia 22, partiu desta vida, na Nova Inglaterra o Sr. Jonathan Edwards (antes de Northampton, Nova Inglaterra, mas ultimamente em Stockbridge), presidente do College of New Jersey; pessoa de grande eminência; tanto com respeito à capacidade, cultura, piedade, e utilidade; um ótimo estudioso, e grande teólogo"...

O TEÓLOGO PURITANO E PREGADOR CONGREGACIONAL
 

Como pregador Congregacional, Jonathan Edwards foi um autêntico teólogo puritano. E segundo J. I. Packer: "Não é exagero afirmar que o puritanismo é o que Edwards foi. Homens como Hooker, Shepard, Cotton e Davenpont, pais fundadores da Nova Inglaterra (Estados Unidos) e teólogos puritanos foram relembrados em Edwards, pois todas as suas raízes estavam arraigadas na teologia puritana e na postura desses homens".
Em sua devoção à Bíblia Edwards se mostrava um autêntico puritano, porque lutou sua vida toda para entendê-la e aplicá-la. Sua perspicácia exegética é comparável a de Calvino, Owen, Hodge ou Warfield. Com a Bíblia alimentava-se, com a Bíblia nutria seu rebanho.

Quanto às suas convicções doutrinárias também foi um autêntico puritano. Frente ao racionalismo que estava corroendo a herança puritana em sua época, firmou-se como um sobrenaturalista calvinista. E sendo o arminianismo uma posição em moda em sua época, da mesma forma que os puritanos tinham se oposto ao arminianismo de seus dias, por causa das implicações religiosas, Edwards se opôs fortemente a esse ensino. Ele argumentava que o arminianismo, em qualquer forma (que afirme que a convicção sobre a verdade espiritual é obra de Deus, mas que a conversão é obra do próprio indivíduo) golpeia profundamente a verdadeira piedade. Isso reduz Deus a menos que Deus, está finalizando o caminho para o deísmo e é meio caminho andado para o ateísmo. Destrói a devida reverência a Deus, porque nega a nossa total dependência Dele. Promove o orgulho humano, apresentando o ato decisivo de nossa salvação como se fosse feito tudo por nós mesmos. Por conseguinte introduz um princípio de auto-dependência no cristianismo. Isso faz com que a religião cristã se torne irreligiosa, alicerçando uma mera forma de piedade sobre a negação de sua eficácia. Todos esses eram pontos puritanos.

Edwards também foi um autêntico puritano em sua posição sobre a natureza da piedade cristã. A piedade cristã para ele era uma questão de dar glória ao Criador, através de uma singela dependência e grata e humilde obediência a Ele. Significa reconhecer nossa total e completa dependência de Deus, na vida e saúde, na graça e na glória, enfim em tudo. É amá-lO, louvá-lO e servi-lO por tudo o que nos tem dado gratuitamente em nosso Senhor Jesus Cristo.

Em um sermão sobre 1 Co 1:19-21 com o título de: "Deus é glorificado na dependência do homem" ele diz: "Sejamos exortados a engrandecer somente a Deus, atribuindo-lhe toda a glória da redenção. Esforcemo-nos para obter uma sensibilidade de nossa grande dependência de Deus... a mortificar qualquer tendência para a auto-dependência e a justiça própria. O homem naturalmente, é muitíssimo inclinado a exaltar a si mesmo e a depender de seu próprio poder ou bondade... Mas essa doutrina deveria ensinar-nos a engrandecer somente a Deus, mediante a confiança, a dependência e o louvor. "Aquele que gloria-se, glorie-se no Senhor". Tem algum homem a esperança de que é convertido e santificado... que seus pecados lhe foram perdoados, e que foi recebido no favor divino e exaltado à honra e a bem-aventurança de ser filho de Deus, e um herdeiro da vida eterna? Então que dê a Deus toda a glória, pois só Deus pôde fazê-lo diferir do pior dos homens neste mundo ou dos mais miseráveis condenados ao inferno... Algum homem destaca-se na santidade, e é abundante em boas obras? Então que nada tome de glória para si mesmo, mas atribua tudo Àquele de que somos "feitura... criados em Cristo Jesus para as boas obras".
A dependência do homem a um Deus Todo-Poderoso e Soberanamente Livre era o princípio orientador de sua teologia. Por outro lado ele não tolerava nenhuma espécie de crença fácil, ou moralismo, ou qualquer formalismo apenas. Para ele a piedade é um dom sobrenatural, de caráter dinâmico e experimental em suas manifestações. Trata-se de uma comunhão concreta com Deus, por meio de Seu Filho Jesus Cristo, realizada pelo Espírito Santo e expressa através de atividades e emoções. Segundo Edwards a raiz da piedade é uma forte convicção sobre a realidade gloriosa das coisas divinas e celestes do evangelho. E isso é mais do que a concepção intelectual das noções teológicas ou a aceitação das verdades cristãs, sob a pressão da constrangedora comunidade. Mas vêm de uma direta iluminação divina, que acompanha a Palavra de Deus, tanto falada como escrita. Edwards explicou isso em 1734, em seu sermão sobre Mt 16:17 com o título de "Uma Luz Divina e Sobrenatural Conferida à Alma": "Essa luz é tal que influencia eficazmente a tendência e modifica a natureza da alma. Assemelha nossa natureza à natureza divina... Esse conhecimento nos desliga do mundo e eleva nossa inclinação quanto às coisas celestes. Faz o coração voltar-se para Deus, como a fonte do bem, a fim de que O escolhamos como nossa única porção. Essa luz, e somente ela, leva a alma a aproximar-se de Cristo e ser salva; molda o coração segundo o Evangelho, modifica sua inimizade e oposição ao plano de salvação ali revelado; leva o coração a aceitar boas-novas, aderindo à revelação de Cristo como nosso Salvador, fazendo a alma toda concordar e entrar em sintonia quanto a isso... apegando-se com toda disposição e afinidade, e dispõe eficazmente a alma para que se dedique totalmente a Cristo... Quando atinge o fundo do coração e muda a natureza, assim também inclina eficazmente à obediência total. Mostra que Deus é digno de ser obedecido e servido. Atrai o coração a um amor sincero a Deus... e convence da realidade daquelas gloriosas recompensas que Deus tem prometido aos que lhe obedecem".

Dessa renovação do coração, pela luz vivificadora de Deus, derivam as boas obras e as santas emoções: "Como as emoções não só necessariamente pertencem à natureza humana, mas também são uma importantíssima parte dela, assim (visto que a regeneração renova todo o homem) as santas emoções não só pertencem à verdadeira religião, mas são também uma importantíssima parte da religião. Visto que a verdadeira religião é prática e que Deus constituiu a natureza humana de tal modo que as emoções servem de molas impulsionadoras dos atos dos homens, isso também nos mostra que a verdadeira religião deve constituir, em grande parte, de emoções".
É exatamente aí que Edwards tanto se destaca. Ele começa a caracterizar as emoções verdadeiramente graciosas e santas, fazendo isso com um discernimento e perspicácia pastoral e teológica que garantiu, para seus escritos, um lugar indisputável entre os clássicos de todos os tempos. De fato Edwards esclareceu, aprofundou e levou a frente o conceito puritano da religião experimental. Insistia que o cristianismo vivo e verdadeiro é uma religião tanto na mente como no coração, e se esmerou em mostrar como o coração deve envolver-se. Esse fora um interesse dos puritanos.

Como pregador de um púlpito congregacional foi realmente um autêntico puritano em sua abordagem da pregação. Com base em suas raízes, pregava com um alvo triplo: levar os homens a entenderem, sentirem e responderem à verdade do evangelho. Como os puritanos, seus sermões consistiam no método proposição, prova e aplicação. Em outras palavras, abertura, doutrina e aplicação. Edwards ocultava erudição, demonstrando simplicidade de estilo, preferindo uma clareza simples.
Costumava ler no púlpito seus sermões escritos, com voz constante e calma, evitando olhar para seus ouvintes enquanto falava e não buscou pregar da maneira que os puritanos se interessavam, de forma direta, autoritária e poderosa. Segundo ele o principal benefício obtido da pregação vem das impressões feitas sobre a mente no momento. Não dos efeitos que surgem mais tarde, mediante o lembrar daquilo que fora pregado.

Mas Edwards pregava com elevado grau de poder. Na verdade ele possuía um dom único de fazer as idéias adquirirem vida, através da precisão da exposição. Através de uma série de raciocínios, ele ia desdobrando uma exatidão lenta e suave, semi-hipnótica, capturando a atenção dos ouvintes sobre sucessivos desdobramentos da verdade.
Sua profunda reverência, por causa do seu temor a Deus, somava-se a esse poder compelidor do púlpito. O resultado era que as audiências ficavam sem resistir, nem esquecer. Enquanto penetrava as consciências com as antigas e claras verdades sobre o pecado e a salvação, Edwards fazia 2 horas parecerem 20 minutos. Hopkins, o seu primeiro biografo registrou: "As palavras dele por muitas vezes exibiam grande fervor interior, sem muito barulho e sem emoção externalizada, caindo com grande peso sobre as mentes de seus ouvintes; ele falava de modo a revelar as fortes emoções de seu próprio coração, as quais tendiam, de maneira natural e eficaz, a comover e a afetar outras pessoas".

Mas por outro lado ele não se opunha ao fervor de pregadores como George Whitefield. Pelo contrário, em uma ocasião durante o avivamento de 1740, quando Whitefield e outros foram atacados pelos latifundiários que diziam que esse fervor era um lamentável lapso que tendia ao entusiasmo, uma fantasia fanática, Edwards defendeu-os. Segundo ele um modo extremamente emotivo de pregar sobre temas cristãos não tende a gerar falsas apreensões, mas uma maior compreensão deles, mais do que uma maneira moderada, monótona e indiferente de falar. Para ele a mente do povo precisa ser abastecida com informações, mas eles precisam ter os corações aquecidos também. De fato suas raízes congregacionais lhe dotaram com uma teologia autenticamente puritana e lhe encaminharam a uma pregação dotada de poder e exatidão

USANDO OS MEIOS DA GRAÇA

Aos 20 anos de idade Jonathan Edwards escreveu: "Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo o que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me comportar como alguém que tivesse direitos de forma alguma... travando assim, uma batalha contra o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida".
Jonathan foi criado em um lar muito piedoso. Foi influenciado grandemente pela vida e ministério de seu pai e pela piedade de sua mãe. Seu pai, Timothy e sua piedosa mãe, Esther oravam constantemente pelo único filho homem para que fosse cheio do Espírito Santo. Quando completou a idade de 7 anos presenciou um despertamento na Igreja de seu pai e assim, acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes, todos os dias, e também chamava seus amiguinhos para orar com ele.
Mas apesar de ter sido criado em um lar muito piedoso, ele só veio a encontrar a paz e a certeza da fé salvadora entre abril e maio de 1721, aos 17 anos, durante o tempo em que permaneceu no Yale College para concluir o grau de mestrado. No entanto, durante o tempo em que estudou lá nunca deixou de estudar a Bíblia diariamente. Por toda sua vida ele alimentou-se com a Palavra de Deus. Segundo J. W. Chapman ele era, de fato, um santuário do Espírito Santo.

Aos 24 anos, quando se casou com a filha de um pastor, Sarah Pierrepont, encontrou nela uma mulher de rara espiritualidade e, como seu marido, entregue totalmente aos serviços do seu Deus. Eles gostavam de andar a cavalo ao cair da tarde, para poderem conversar e, antes de se recolherem, sempre tinham, juntos, os seus momentos devocionais.
Jonathan Edwards passava 13 horas por dia estudando e orando, mas, sempre metódico, todos os dias encontrava momentos para estar com a família. Ele entendia a real natureza da piedade e acreditava que Deus é engrandecido na pequenez e dependência do ser humano.
Como disse o Dr. Martyn Lloyd-Jones certa vez: "Edwards possuía uma excepcional espiritualidade. Ele sabia mais da religião experimental do que a maioria dos homens; e dava grande ênfase no coração". Como costume que vinha desde a sua meninice Edwards gozava os privilégios das orações. Continuou também a freqüentar os lugares solitários das florestas onde podia ter comunhão com Deus.

E em seu leito de morte, partindo de suas experiências pessoais e dos seus grandes benefícios, recomendou a alguns candidatos ao ministério que se achavam ao lado de sua cama: "Breve chegará a hora em que nós também teremos que deixar os nossos tabernáculos terrestres, e ir ao nosso Senhor, que nos enviou para trabalhar em Sua seara, para lhe prestar contas de nós mesmos. Ah, como isso diz respeito a nós, de modo que corramos, não incertamente; lutemos, não como quem esmurra o ar! E o que ouvimos não nos animaria a pôr a nossa confiança em Deus, dEle buscando ajuda e assistência em nossa grande obra, e a dedicar-nos muito a buscar os influxos do seu Espírito e êxito em nossos labores pelo jejum e oração"? Esta foi a marca da piedade deixada pelo teólogo do coração de do intelecto.

SUAS RESOLUÇÕES

Como era comum aos jovens daquela época, Jonathan Edwards escreveu uma lista de resoluções, se comprometendo a viver uma vida teocêntrica em harmonia com os outros. Esta lista foi escrita em 1722 e ao longo dos anos, novas resoluções foram acrescentadas. A lista tem um total de 70 resoluções. Transcrevo aqui trechos resumidos, para mostrar a seriedade e firmeza com que ele encarava a vida:

"Estando ciente de que eu sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, humildemente rogo que Ele, através de Sua graça, me capacite a fielmente cumprir estas resoluções enquanto elas estiverem dentro de Sua vontade em nome de Jesus Cristo."
"Resolvi que farei tudo aquilo que seja para a maior glória de Deus e para o meu próprio bem, proveito e agrado, durante toda a minha vida".
"Resolvi que farei tudo que sentir ser o meu dever e que traga benefícios para a humanidade em geral, não importando quantas ou quão grandes sejam as dificuldades que venha a enfrentar".
"Resolvi jamais desperdiçar um só momento de meu tempo, pelo contrário, sempre buscarei formas como torná-lo mais proveitoso possível".
"Resolvi jamais fazer alguma coisa que eu não faria se soubesse que estava vivendo a última hora da minha vida".
"Resolvi jamais cansar de buscar pessoas que precisem do meu apoio e da minha caridade".
"Resolvi jamais fazer alguma coisa por vingança".
"Resolvi manter vigilância constante sobre a alimentação e bebida, para ser sempre comedido".
"Resolvi jamais fazer alguma coisa que se eu visse outra pessoa fazendo, achasse justo motivo para repreendê-la ou menosprezá-la".
"Resolvi estudar as Escrituras tão firme, constante e freqüentemente, até ao ponto em que possa claramente perceber que estou continuamente crescendo no conhecimento da Palavra".

"Resolvi esforçar-me ao máximo para que cada semana possa me elevar na religião, e no exercício da graça além do nível que estava na semana anterior".
"Resolvi que irei me perguntar ao final de cada dia, semana, mês, ano, como e onde eu poderia ter feito melhor".
"Resolvi freqüentemente renovar a dedicação da minha vida a Deus que foi feita no batismo, e que foi solenemente renovada quando fui aceito na comunhão da Igreja; e que eu solenemente refaço neste dia 12 de janeiro de 1722".
"Resolvi, a partir deste momento e até a minha morte, jamais agir como se a minha vida me pertencesse, mas como sendo total e inteiramente de Deus".

"Resolvi que agirei da forma que achar que eu mesmo julgarei ter sido a melhor, e a mais prudente, quando estiver na vida futura”.
"Resolvi jamais desistir, ou de qualquer maneira relaxar na minha luta contra minhas próprias fraquezas e corrupções, mesmo quando eu não veja sucesso nas minhas tentativas".
"Resolvi sempre refletir e depois das adversidades e das aflições, no que fui aperfeiçoado ou melhorado através das dificuldades que benefícios me vieram através delas, e o que poderia ter acontecido comigo caso tivesse agido de outra maneira".
Edwards combinava o exercício mental e intelectual de um gigante com a piedade quase infantil, pois ele percebia Deus, tanto como infinitamente complexo, quanto como maravilhosamente simples. Essas resoluções, Edwards levou por toda a sua vida.

AS HERANÇAS DE JONATHAN EDWARDS

É notável que a vida de Jonathan Edwards é uma prova de que Deus não quer que desprezemos as faculdades intelectuais que Ele nos deu, mas que a desenvolvamos, sob a direção do Espírito e Deus, e que as entreguemos desinteressadamente ao seu uso.

Nas palavras do falecido Dr. Martyn Lloyd-Jones: "De fato eu tentei, talvez tolamente, comparar os puritanos com os Alpes, Lutero e Calvino com o Himalaia, e Jonathan Edwards com o Monte Everest! Ele sempre me pareceu ser o homem mais semelhante ao apóstolo Paulo. Naturalmente, Whitefield foi um grande e poderoso pregador, como foi Daniel Rowland, mas Edwards o foi também. Nenhum deles teve o intelecto, nenhum deles teve a compreensão da teologia que Edwards teve, foi o filósofo que ele foi. Ele sobressai, parece-me, inteiramente pelo que ele é, entre os homens".


Jonathan Edwards está entre os heróis da fé, digno de ser imitado. Digno de ser imitado em sua devoção à Bíblia, pois lutou para entendê-la, lutou para aplicá-la. Também em sua busca assídua por Deus em oração, visto que ele passava grande parte de seu dia em oração. Não apenas como um costume, mas gozando dos privilégios desta prática. Sua reverência e temor de Deus foram um exemplo também. E apesar do profundo e vasto conhecimento, ele sempre manteve a humildade. Tudo isso porque ele possuía um senso das verdades celestiais, era um conhecimento afetivo, algo que, sem dúvida nenhuma, precisamos hoje como cristãos.
Deixemos que o próprio Edwards o descreva: "Aquele que é espiritualmente iluminado... não crê de maneira meramente racional que Deus é glorioso, mas tem um senso da natureza gloriosa de Deus em seu coração. Não há somente uma percepção racional de que Deus é santo, e de que a santidade é uma coisa boa, mas há uma percepção do caráter atraente da santidade de Deus. Não há apenas uma conclusão especulativa de que Deus é gracioso, porém o senso de quão amável Deus é, ou o senso da beleza deste atributo divino".

Jonathan Edwards foi inteiramente contrário à separação entre coração e cabeça, que tantas vezes tem afetado os evangélicos. Ele unia o mais rico sentimento religioso aos mais elevados poderes intelectuais. Isso é realmente digno de aceitação.
Ele possuía uma apreciação singular por uma espiritualidade fervorosa e intensa. É denominado muitas vezes de teólogo do avivamento, da experiência e do coração. Não que o critério da verdade seja a experiência, mas que o cristianismo tem de ser experimental e prático, sendo a Escritura sempre o juiz de tudo.
 

SUAS OBRAS ESCRITAS

A vastidão dos escritos de Edwards é imensa. Antes de completar seus 20 anos, começou a escrever o tratado filosófico Sobre o Ser. Entre 1722-23 redigiu as suas Resoluções e ainda começou seu Diário e as Miscelâneas. No seu Diário faz um acurado auto-exame com base nas Resoluções. Já as Miscelâneas são uma espécie de diário intelectual que, ao longo de 35 anos, mostram o desenvolvimento de seu pensamento. Em 1739 ele também escreveu sua Narrativa Pessoal, que mostra sua infância, relacionamento com seu pai e as lutas com o seu próprio pecado e com as doutrinas calvinistas da soberania de Deus e da predestinação. Mas as obras mais admiráveis de Edwards são aquelas que analisam o avivamento como um todo. Em 1736, seu primeiro escrito que trata da natureza da experiência religiosa, a Fiel Narrativa da Surpreendente Obra de Deus, analisando os eventos ocorridos durante o avivamento de Northampton, entre 1734-35. Alguns anos depois publicou Marcas Distintas de uma Obra do Espírito de Deus em 1741 e em 1742 Alguns Pensamentos Acerca do Presente Reavivamento da Religião na Nova Inglaterra, tratando do "Grande Despertamento". Em 1746 vem sua obra mais amadurecida sobre a experiência do avivamento, o fantástico Tratado Sobre as Afeições Religiosas. Neste livro ele argumenta que o verdadeiro cristianismo não é evidenciado pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, mas está presente sempre que um coração é transformado para amar a Deus e buscar o Seu prazer. Edwards também produziu obras teológicas, mas sempre possuindo uma dimensão prática. As controvérsias com sua congregação a respeito do direito de participar da Santa Ceia, levou-o, em 1739, a escrever Qualificações para a Comunhão, argumentando que somente pessoas convertidas devem participar do Sacramento.

Depois de ser despedido de sua Igreja, ele passaria os últimos 8 anos de sua vida na remota Stockbridge, o que lhe proporcionou muitas obras. Foi neste período que ele escreveu seu tratado sobre A Liberdade da Vontade (1754), argumentando que o ser humano é livre, mas Deus permanece soberano e é o único responsável pela salvação humana. Outras obras escritas nesse período foram: O Fim Para o Qual Deus Criou o Mundo e A Natureza da Verdadeira Virtude, publicadas depois, em 1765; O Pecado Original (1758); e História da Redenção, que foi publicado em 1774 na Escócia e nos Estados Unidos em 1786. Outro grande volume de obras de Jonathan Edwards foram os seus sermões, por exemplo, "Deus é glorificado na Dependência do Homem" (1 Co 1:29- 31), pregado a um grupo de pastores de Boston em 1731 e que foi o seu primeiro publicado. Em 1733 ele proferiu um outro importante sermão "Uma Luz Divina e Sobrenatural" (Mt 16:17). E seus 15 sermões sobre "A Caridade e os Frutos" (1 Co 13), pregados à igreja de Northampton em 1738, mas publicado somente em 1851.

A correspondência pessoal dele também formou um volumoso e valioso conjunto de escritos, abordando temas de sermões. O seu "Relato do Reavivamento de Northampton em 1740-42" faz parte de uma carta que escreveu a um destacado ministro de Boston.

Edwards também escreveu uma biografia do famoso missionário David Brainerd (1718-1747) e publicou seu diário, um clássico devocional. Brainerd estava para casar com Jerusha, uma das filhas de Edwards, mas morreu na casa deste aos 29 anos de idade, vítima da tuberculose.
Portanto a vastidão das obras de Edwards é mais um poderoso incentivo para uma leitura decidida e persistente de um horizonte tão vasto que ele possuía em contato com a Escritura e os avivamentos. Busquemos mais deste valiosíssimo tesouro alcançável.

Luis Valério da Silva                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                Leituras e Textos

 O Perigo da Ignorância Bíblica - Marcos 12:18-27

Por Gustavo Barros - Pastor da Igreja Reformada em Campinas SOLI DEO GLORIA

Introdução e Contextualização: 

18 - Depois os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte questão: 19 "Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmão de um homem morrer e deixar mulher sem filhos, este deverá casar-se com a viúva e ter filhos para seu irmão. 20 Havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem deixar filhos. 21 O segundo casou-se com a viúva, mas também morreu sem deixar filhos. O mesmo aconteceu com o terceiro. 22 Nenhum dos sete deixou filhos. Finalmente, morreu também a mulher. 23 Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete foram casados com ela?" 24 Jesus respondeu: "Vocês estão enganados! Pois não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus! 25 Quando os mortos ressuscitam, não se casam nem são dados em casamento, mas são como os anjos nos céus. 26 Quanto à ressurreição dos mortos, vocês não leram no livro de Moisés, no relato da sarça, como Deus lhe disse: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó’? 27 Ele não é Deus de mortos, mas de vivos. Vocês estão muito enganados!"

A Ignorância bíblica é fatal na vida das pessoas. Muitos pecados são justificados através do uso errado da Palavra de Deus. Muitas pessoas usam passagens bíblicas sem o entendimento correto para promover e proteger práticas pecaminosas dentro das igrejas. Vejamos alguns exemplos:

1- O uso da expressão:“O UNGIDO DE DEUS” – Muitos cristãos usam essa frase como uma licença para permitir todo tipo de ação dos pastores. Qualquer crítica feita é refutada com essa alegação, ‘Você não pode falar assim do ungido de Deus’.

Essas pessoas usam o Salmo 105:15 “Não toqueis os meus ungidos, e não maltrateis os meus profetas.”
As pessoas ignoram todo o contexto literário e histórico da passagem que trata do povo de Israel.

No Novo Testamento Jesus deixa claro que devemos examinar as ações dos líderes para sabermos se eles são lobos vestidos de pastores ou pastores verdadeiros. É obrigação da igreja analisar e criticar o caráter do pastor da igreja.

E se pecado e erros forem encontrados, o líder deve ser exortado (I Tm 5:19-20).

A ignorância bíblica abre a porta para um mar de pecado entrar na igreja.

2 – “NÃO PODEMOS JULGAR” – Quantos cristãos alegam que não podem julgar os pecados que ocorrem na igreja e na vida dos irmãos.

Muitos dizem: “Eu não posso julgar, pois só Deus conhece a motivação do coração”.

A passagem utilizada é Mateus 7:1 “Não julgueis, para que não sejais julgados”

Mas as pessoas ignoram o contexto da passagem onde Jesus condena o julgamento hipócrita.

A palavra de Deus exorta os cristãos a julgarem as coisas. É obrigação do cristão examinar as ações e palavras para ver se estão de acordo com o padrão de Deus!

 Jo 7:24 - "Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos (NVI)/ mas julgai segundo a reta justiça."

 I Cor 6:5 -  "Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?"

 I Tss 5:21 - "ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom."

E por causa da falta de julgamento do pecado nas igrejas a iniqüidade se alastra!

Não se encontram igrejas onde a disciplina eclesiástica seja implantada seriamente e sem parcialidade.

3 – “DEUS NÃO QUER QUE EU SOFRA” – Muitos cristãos por causa da ignorância da Palavra de Deus crêem que o sofrimento vem somente do diabo. Muitas pessoas alegam que todo tipo de sofrimento é maldição de Deus, por isso você deve fazer o que for para evitar o sofrimento.

Quando o sofrimento chega, a pessoa fica amargurada com Deus ou os outros falam que há pecado oculto.

Na verdade a Bíblia é clara em dizer que os cristãos irão sofrer:

At. 14:21-22 – [depois de Paulo ser apedrejado] “Eles pregaram as boas novas naquela cidade e fizeram muitos discípulos. Então voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, fortalecendo os discípulos e encorajando-os a permanecer na fé, dizendo: "É necessário [dei – necessidade, necessidade divina] que passemos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus".

II Tim. 3:12 – “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”.

Filipenses 1:29 – “pois a vocês foi dado o privilégio de, não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele”;

Jó 2:10 “Ele (Jó) respondeu: Você (a esposa dele) fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal? "

4 –“DEUS QUER QUE SEUS FILHOS SEJAM RICOS” – Já escutei muitas pessoas dizendo que a vontade de Deus é que todos os cristãos sejam abençoados financeiramente e que sejam ricos.

Devido à essa ignorância bíblica, as pessoas nunca estão contentes com o que o Senhor já deu e passam a viver como o mundo.

Essas pessoas usam passagens referentes à aliança abraâmica para defender a tese de que Deus quer que todos sejam abençoados. Eles geralmente citam Gl 3:14 - “Isso para que em Cristo Jesus a bênção de Abraão chegasse também aos gentios,”

Assim eles afirmam que a benção de Abraão chegou aos gentios, por isso nós podemos ser ricos, mas o problema é que eles omitem a segunda parte do versículo que explica a promessa: “para que recebêssemos a promessa do Espírito mediante a fé.”

Uma outra passagem muito usada é Rm 8:17 - “Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.”

Mas o grande problema é que eles citam só a primeira parte do verso e esquecem da segunda que dá a condição para essa herança: “se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória.”

I Tm 6:6-9 - “De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, 7 pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; 8 por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. 9 Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição.”

5 – “VAMOS TODOS ORAR EM LÍNGUAS” – Um monte de gente fazendo um monte de barulho e ninguém entende ninguém. O culto vira uma confusão. As pessoas se acham espirituais, pois em algum lugar da Bíblia fala de orar em línguas.

Não sabem que a Bíblia diz claramente para que isso não ocorra.

I Co 14:9 Assim acontece com vocês. Se não proferirem palavras compreensíveis com a língua, como alguém saberá o que está sendo dito? Vocês estarão simplesmente falando ao ar.

6 – “PASTORA FULANA... BISPA SICRANA” – Quantas igrejas têm no ofício de pastores/presbíteros para as mulheres? Muitos crêem que a esposa do pastor é automaticamente uma pastora.

Isso se dá por ignorância bíblica, pois em nenhum lugar da Bíblia temos mulheres no cargo de presbitério. Pelo contrário, a Palavra ensina claramente que o ofício do ensino e governo cabe aos homens:

I Tm 2:12 - “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem” [papel esse do pastor/presbítero]. Esteja, porém, em silêncio.”

 Ver tbm 3:2 – bispo/presbítero – masculino.

7 – “AQUELE HOMEM É DE DEUS, POIS ACONTECEM MILAGRES NAQUELA IGREJA” – Muitos usam os sinais e milagres como prova de fidelidade de um homem para com o Senhor. A pessoa pode aprontar as piores coisas, mas visto que ocorrem milagres ele é um “homem do Senhor”.

As pessoas se esquecem que o próprio Senhor Jesus disse, “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. 22 Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ 23 Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!’”(Mt 7:21-23)

Essa é a triste realidade - um mar de pessoas ignorantes da Palavra de Deus – pessoas que sabem só o suficiente para se tornarem perigosas. O grande problema é que por não conhecer as Escrituras – elas não conhecem o poder de Deus!

Ignorância bíblica é perigosa, pois ela gera ignorância do poder e autoridade de Deus. A pessoa acaba indo para dois extremos: 1) Por não conhecer o poder de Deus, Deus se torna um ser totalmente limitado pela razão humana; 2) Por não conhecer as Escrituras e, conseqüentemente, o poder de Deus, a pessoa se acha mais poderosa do que Deus. Dois erros nos quais ninguém deve cair jamais.

CONTEXTO:

Continuamos o intenso terceiro dia da última semana do nosso Senhor Jesus, dia esse cheio de controvérsias e ataques da parte dos líderes religiosos. A questão da autoridade religiosa foi um fracasso, a questão do pagamento dos impostos - política, foi ineficaz para apanhá-Lo, portanto agora eles partem para mais uma tentativa: a questão teológica.

Divisão do Estudo:

i – Os ignorantes (VS.18-23)

ii – O Perigo da ignorância (VS.24,28)

I – Os ignorantes (vs.18-23)

18 Depois os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte questão: 19 "Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmão de um homem morrer e deixar mulher sem filhos, este deverá casar-se com a viúva e ter filhos para seu irmão. 20 Havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem deixar filhos. 21 O segundo casou-se com a viúva, mas também morreu sem deixar filhos. O mesmo aconteceu com o terceiro. 22 Nenhum dos sete deixou filhos. Finalmente, morreu também a mulher. 23Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete foram casados com ela?"

“Depois” --- depois do fracasso dos fariseus e herodianos na tentativa de apanharem Jesus com a questão política sobre impostos, agora é a vez dos saduceus tentarem apanhar Jesus – agora não com uma questão política, mas teológica.

“os saduceus, que dizem que não há ressurreição” – Quem são esses novos personagens?

OS SADUCEUS:

· Provavelmente eles surgiram das famílias de sacerdotes da aristocracia de Jerusalém durante a dinastia Hasmoneana (164-63 a.C.). Outra alternativa é que eles eram da linhagem de Zadoque – sacerdote nos tempos de Salomão (I Re 2:35).

· No Novo Testamento são eles quem controlam o sacerdócio e muito dos assuntos políticos (At 5:17).

· O historiador Josefo relata que eles consideravam apenas o Pentateuco como autoridade da Palavra de Deus – rejeitando as tradições orais (típico dos fariseus).

· Eles negavam a imortalidade da alma e a ressurreição do corpo.

· Enfatizavam o livre-arbítrio, negando a soberania de Deus.

· Atos 23:8 diz que eles não acreditavam em anjos e espíritos.

· Com a destruição do Templo em 70 d.C. esse grupo desapareceu, pois eles cuidavam daquele lugar.

Eles são comparados aos liberais de hoje em dia, por negarem o sobrenatural. Eles são os racionalistas, cépticos e deístas – e mesmo assim eles controlam o Templo.

Eles são os aniquilacionistas de hoje [criam na aniquilação do corpo]. Negavam a existência do inferno e do céu.

Um hino deles para honrar os ancestrais dizia, “A única imortalidade que podemos esperar é ter uma posteridade e sermos lembrados” (Zondervan Illustrated Bible Background Commentary – Mark, pg. 275) – isto é, para eles “o Sheol era o lugar de descanso final, e qualquer continuidade era compreendida em termos de reputação e posteridade, não em termos de uma ressurreição pessoal” (R.T. France, T.N.I.G.T.C. in Mark – Eerdmans, pg. 471).

Veja que esses homens são ‘religiosos’ – eles cuidam do Templo. Eles são responsáveis pela religião em Israel e negam as coisas mais básicas. As igrejas estão cheias dessas pessoas - que têm posições de status e ‘honra’, mas que na verdade não passam de tolos, pois são ignorantes da Palavra e do poder de Deus.

Temos que tomar cuidado com a idéia de que só porque a pessoa tem um nome e um status religioso que ela é, conseqüentemente, uma pessoa que teme a Deus. Cuidado com essa lógica!

Vs.18-23 18 Depois os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte questão: 19 "Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmão de um homem morrer e deixar mulher sem filhos, este deverá casar-se com a viúva e ter filhos para seu irmão. 20 Havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem deixar filhos. 21 O segundo casou-se com a viúva, mas também morreu sem deixar filhos. O mesmo aconteceu com o terceiro. 22 Nenhum dos sete deixou filhos. Finalmente, morreu também a mulher. 23 Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete foram casados com ela?"

Veja a hipocrisia deles, eles não crêem na ressurreição, mas questionam Jesus sobre esse assunto.

V.19 - Mestre, Moisés nos deixou escrito que:

Eles aparentam conhecer da Bíblia, pois eles sabem citar a lei de Moisés – eles citam Deuteronômio 25:5-10.

Muitas destas pessoas usam a palavra de forma errada, não sabem usar a Espada do Espírito! II Pe 3:16 “Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contém algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles.

É comum ouvir a seguinte afirmação: “Ah, fulano conhece muito a Bíblia”, quando na verdade a pessoa não conhece absolutamente nada do significado correto e da aplicação das passagens.

O objetivo desses saduceus queriam, na verdade, era colocar Jesus numa cilada. Eles queriam que Jesus respondesse de tal forma que ele parecesse ridículo por ensinar tal doutrina. Eles querem mostrar quão ridículo é o ensino de Jesus sobre a ressurreição, pois eles sabiam que Jesus já havia ensinado sobre isso.

II – o poder da ignorância (vs.24-27)

24 Jesus respondeu: "Vocês estão enganados! Pois não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!... 28 Ele não é Deus de mortos, mas de vivos. Vocês estão muito enganados!"

A resposta de Jesus é um ataque fulminante contra aqueles que se achavam experts na interpretação bíblica. Jesus detona esses homens em público!

“VOCÊS ESTÃO ENGANADOS” – enganados = πλανάω – tem o sentido estar perdido – perambulando no erro. A palavra ‘planeta’ vem dessa palavra grega. Tem o sentido de um corpo que vagueia sem destino.

Essa palavra é usada na parábola do pastor que tem 100 ovelhas e uma se perde em Mt 18:12.

É exatamente isso o que ocorre com qualquer pessoa que não conhece a Palavra de Deus – torna-se uma pessoa errante, que perambula sem destino no próprio erro.

Essa é a característica de falsos pastores:

Jd 1:12 e 13 “Esses homens são rochas submersas nas festas de fraternidade que vocês fazem, comendo com vocês de maneira desonrosa. São pastores que só cuidam de si mesmos. São nuvens sem água, impelidas pelo vento; árvores de outono, sem frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz. 13 São ondas bravias do mar, espumando seus próprios atos vergonhosos; estrelas errantes (gk. planetes), para as quais estão reservadas para sempre as mais densas trevas”;

II Tm 3:13 “Contudo, os perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados (eles enganam, pois eles mesmos estão enganados). 14 Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu.”

Antes nós estávamos enganados – perambulando em erros e mentiras, mas pela graça de Deus nós fomos levados para o caminho correto:

I Pe 2:25 “Pois vocês eram como ovelhas desgarradas, mas agora se converteram ao Pastor e Bispo de suas almas;

Tt 3:3 Houve tempo em que nós também éramos insensatos e desobedientes, vivíamos enganados e escravizados por toda espécie de paixões e prazeres. Vivíamos na maldade e na inveja, sendo detestáveis e odiando-nos uns aos outros. 4Mas quando se manifestaram a bondade e o amor pelos homens da parte de Deus, nosso Salvador, 5não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, 6que ele derramou sobre nós generosamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. 7Ele o fez a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna.”

* Se hoje podemos conhecer a sã doutrina, se podemos ter uma interpretação correta da Palavra – é importante lembrar que primeiramente isso é obra da graça de Deus sobre nós!

A Palavra de Deus nos exorta a tomarmos cuidado para não sermos pessoas enganadas:

Mc 13:5-6 Jesus lhes disse: "Cuidado, que ninguém os engane. Muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu! ’ e enganarão a muitos”;

I Co 6:9 “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, 10nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus”;

15:33 “Não se deixem enganar: as más companhias corrompem os bons costumes”;

Gl 6:7 “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá”;

Tg 1:16 “Meus amados irmãos, não se deixem enganar”;

I Jo 3:7 “Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo.”

* Essa é uma das razões da minha preocupação em pregar seriamente e profundamente a Palavra de Deus – eu jamais quero ser acusado por Jesus de estar enganado, pois quando eu estiver enganado daí eu pregarei o engano como conseqüência.

* Essa exortação de Jesus deve nos trazer imenso temor, pois esses homens, assim como muitos de nós, se achavam grandes conhecedores da Palavra. Quão terrível e amedrontador seria ouvir de Jesus essas palavras – “Você está enganado – você está perambulando em erros e mentiras.”

A Bíblia mostra várias vezes quando Jesus confrontou os que se achavam peritos e grandes conhecedores da Lei de Deus com a seguinte pergunta:

Mt. 12:3 “Ele respondeu: ‘Vocês não leram o que fez Davi quando ele e seus companheiros estavam com fome?,5 Ou vocês não leram na Lei que, no sábado, os sacerdotes no templo profanam esse dia e, contudo, ficam sem culpa’?”; 19:4 “Ele respondeu: ‘Vocês não leram que, no princípio, o Criador os fez homem e mulher”; 21:16 “Respondeu Jesus: ‘Sim, vocês nunca leram: dos lábios das crianças e dos recém-nascidos suscitaste louvor”’?,42 “Jesus lhes disse: ‘Vocês nunca leram nas Escrituras?’”

A verdade é que eles já haviam lido várias vezes, mas nunca haviam entendido e nem colocado em prática.

* Como você responderia a essa pergunta se Jesus lhe confrontasse com algum hábito pecaminoso em sua vida?

- para aqueles que vivem paralisados pelo temor da morte – ‘Você nunca leu que Eu venci a morte e que a morte é lucro para o cristão?’

- para aqueles que roubam – ‘Você nunca leu o que a Bíblia diz sobre se contentar com o que tem e não roubar?’

- para aqueles que têm problema com ira/descontrole – ‘Você nunca leu na Palavra sobre a importância da paciência e como ela é fruto do Espírito?’

- para aqueles que têm problemas com pornografia – ‘Você nunca leu sobre quão radical você deve ser para com o pecado?’

- para aqueles que gostam de fofocar – ‘Você nunca leu em Provérbios que o Senhor condena esse tipo de atitude?’

Qual seria a sua resposta?

Não basta só ler e ir à igreja, é necessário que a Palavra seja viva na sua vida.

- Jesus dá o diagnóstico do engano deles. Jesus mostra o motivo deles estarem enganados:

"Vocês estão enganados! Pois não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!”

Quão terrível foi essa acusação de Jesus, pois esses homens governavam o Templo – o centro religioso – e Jesus diz que eles estão enganados, POIS NÃO CONHECEM AS ESCRITURAS!

OS DOIS MOTIVOS DE ELES ESTAREM ENGANADOS:

1- “POIS NÃO CONHECEM AS ESCRITURAS” - μὴ εἰδότες τὰς γραφὰς

É muito triste, pois eles tinham a certeza que conheciam a Palavra melhor do que ninguém.

Conhecer – Gk. οἶδα – esse verbo tem o sentido de ver algo e compreender, perceber o significado. Seria o oposto de um conhecimento superficial.

Quantas pessoas hoje gostam de viver em um conhecimento superficial da Palavra de Deus? E a grande diferença é que hoje não há desculpas, pois a Bíblia é de fácil acesso para todos. (diferente de quando não havia Bíblias em circulação).

O CONHECIMENTO PROFUNDO DAS ESCRITURAS É VITAL PARA UM CRISTÃO. Se você não compreende e não conhece a Palavra, então você passa a andar na escuridão e acaba sendo levado para todo tipo de crença.

Sl 119:105 “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho.”
A Palavra de Deus é lâmpada quando ela é entendida!

Falta de conhecimento sério da Palavra de Deus leva a pessoa à ignorância. Ignorância bíblica faz com que as pessoas sejam enganadas por todo tipo de heresia. I Ts 4:13 “Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança.” – ignorância bíblica leva a pessoa ao misticismo, espiritismo...

Por que as pessoas são ignorantes da Palavra de Deus? Por que há tantas pessoas ignorantes da Palavra de Deus no meio cristão?

1 – ESSAS PESSOAS NUNCA FORAM REALMENTE CONVERTIDAS: Jesus e os apóstolos nos avisaram que muitas pessoas que nunca foram regeneradas pelo Espírito entrariam nas igrejas ensinando falsas doutrinas.

Para entender e conhecer verdadeiramente a Palavra é preciso ser nascido do Espírito: I Co 2:14 “Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente”; Rm 8:7 “a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo”.

Já ouvi uma pessoa dizer, ‘Quando eu entender melhor a Bíblia, daí eu vou aceitar o cristianismo’, isso é piada, pois a pessoa jamais vai conseguir entender a Bíblia sem uma obra do Espírito.

A incapacidade para manejar a Palavra, faz com que existam muitas pessoas que não sabem utilizá-la de forma correta. “Nada é mais abusado nesse mundo do que a Palavra de Deus! E por quê? Pois homens se achegam a ela com corações impuros e doentes” (Gurnall – The Christian in Complete Armor - pg. 422).

2 - Preguiça: Um outro motivo para a gigantesca ignorância bíblica que se alastra pelas igrejas é a preguiça. As pessoas são extremamente preguiçosas para ler e se esforçar para compreender e aplicar os textos da Bíblia.

No judaísmo do tempo de Jesus a maioria das pessoas não estudava mais as Escrituras e sim os comentários dos outros judeus – isso é terrível! E hoje há um numero cada vez maior de ‘cristãos’ complacentes, que não estão nem ai para conhecer a Palavra de Deus. Como conseqüência são ignorantes da Bíblia, são pessoas superficiais!

Hb 5:11 “Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de explicar [δυσερμήνευτος - difícil interpretar], porque vocês se tornaram lentos para aprender. 12 De fato, embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido! 13 Quem se alimenta de leite ainda é criança, e não tem experiência no ensino da justiça. 14 Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante [gymnázō-treinar seria e exaustivamente], tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal.

A Bíblia exorta o cristão a se esforçar (exercitar) para ter discernimento bíblico. A pessoa que não lê, não estuda e não coloca esforço na leitura da Bíblia será sempre ignorante e inapto para discernir as coisas.

II Tm 2:7 “Reflita no que estou dizendo [essa é a nossa parte/nosso dever], pois o Senhor lhe dará entendimento em tudo” [através do Espírito Santo que é o nosso grande Professor].

3 – Temor – Muitas pessoa sabem o que é certo, mas por medo de homens continuam a persistir no erro. Algumas pessoas sabem qual é a sã doutrina, mas por temor de gerar conflitos e divisões continuam vivendo na mentira – assim como alguns líderes religiosos na época de Jesus Jo 12:42 “Ainda assim, muitos líderes dos judeus creram nele. Mas, por causa dos fariseus, não confessavam a sua fé, com medo de serem expulsos da sinagoga”.

Acabe sendo um problema moral – a pessoa prefere o erro, pois trará menos dor.

NO CONTEXTO DE MARCOS:

Jesus alega que esses homens estão enganados sobre a questão da ressurreição, pois eles não conheciam as Escrituras. Se eles tivessem conhecimento verdadeiro da Palavra de Deus, eles saberiam que já em Êxodo (como Jesus irá mostrar) havia o relato de um Deus dos vivos.

---- o 2° motivo por eles estarem enganados:

2 - Vocês estão enganados! Pois não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!

Como conseqüência da ignorância da Palavra de Deus, eles são ignorantes do PODER DE DEUS!

O poder de Deus está revelado nas Escrituras, por isso se você não conhece a Palavra, você não conhecerá o poder do Senhor.

O que Jesus está falando para os saduceus é que já que eles não conhecem as Escrituras, então eles não conhecem o poder de Deus em ressuscitar os mortos e fazer tudo novo. Se eles conhecessem o livro de Gênesis e o relato da criação do mundo, eles conheceriam o poder de Deus e saberiam que a ressurreição não seria nada comparada com a criação do mundo. Se eles realmente conhecessem o relato do Êxodo, eles conheceriam o poder de Deus – saberiam que Deus tem sim poder para ressuscitar alguém dos mortos. Mas visto que eles não conhecem o poder de Deus que é revelado nas Escrituras, eles continuam enganados!

A pessoa que não conhece verdadeiramente a Palavra, não conhece o poder de Deus!

A Palavra de Deus testifica sobre a majestade e o poderio de Dele! A Bíblia revela a Sua onipotência.

É por isso que eu prego e ensino a Palavra com toda seriedade – é por isso que quando vocês vêm à igreja eu não fico fazendo vocês rirem, não fico jogando tempo fora com dança, mímica, longas horas de música e filmes. Se vocês não conhecerem a Palavra, vocês jamais conhecerão o poder de Deus.

Imaginem o Senhor Jesus falando para vocês: ”você não conheceu o meu poder, pois você nunca conheceu a minha Palavra!”

Quantos erros, pecados e heresias entram nas igrejas e nas vidas das pessoas devido à ignorância da Palavra que consequentemente leva à uma ignorância do poder de Deus?

- Cada dia que passa existem mais técnicas nas igrejas para trazerem as pessoas. A grande maioria das pessoas acredita que se o culto for algo interessante, legal e engraçado as pessoas irão aceitar a Jesus. Isso mostra a ignorância da Palavra e a ignorância do Poder de Deus. Se essas pessoas lerem a Bíblia, elas verão que a obra de salvação não depende da astúcia do homem, mas da graça de Deus. Se elas conhecessem o que a Palavra diz sobre a salvação elas conheceriam o poder de Deus em salvar o pecador (Rm 9:16 “Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus”; Jonas 2:9 “Do SENHOR vem a salvação”; Mc 10:26-27 “Os discípulos ficaram perplexos, e perguntavam uns aos outros: Neste caso, quem pode ser salvo? Jesus olhou para eles e respondeu: Para o homem é impossível, mas para Deus não; todas as coisas são possíveis para Deus").

- Apelos – muitos pregadores gostam de pregar com música no fundo e tentam comover as pessoas achando que o apelo é o que levará a pessoa a aceitar a Jesus. Se essas pessoas conhecessem a Palavra, elas saberiam que isso não é bíblico, e se esses pregadores conhecessem a Palavra eles conheceriam o poder do Espírito Santo em fazer a pessoa nascer de novo (Rm 1:16 “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”).

- Sofrimentos e tribulações – muitos ensinam que se você está passando por sofrimentos e tribulações isso é conseqüência de pecado escondido ou falta de fé. Mas se essas pessoas que ensinam isso conhecessem as Escrituras, elas saberiam que o sofrimento é benção e parte da vida do cristão. E se eles conhecessem isso, eles conheceriam o poder de Deus que é manifestado nas nossas fraquezas II Cor 12:8 “Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. 9 Mas ele me disse: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim.”

* Se você lê o relato da criação do mundo em Gênesis 1-2 e ainda crê em processo de evolução de milhões de anos;

* Se você lê na Bíblia sobre o poder de Jesus sobre a morte e o lucro que se torna a morte para o cristão e ainda fica preso pelo temor da morte;

* Se você lê em Mateus 6 que o Senhor promete cuidar de você que não precisa haver preocupação em sua vida e você ainda vive cheio de preocupações;

* Se você lê na Bíblia sobre a seriedade do pecado e importância do arrependimento na vida do cristão, mas você continua alimentando os mesmos vícios e pecados;

* Se você lê Romanos 12 – onde o cristão é exortado a pensar diferente do mundo – e você pensa do mesmo modo que as pessoas não convertidas e tem os mesmo valores e conceitos;

Então você está como esses saduceus – tem um conhecimento superficial das Escrituras e do poder de Deus.

Jesus termina a discussão não apenas falando que eles estavam enganados, mas MUITO ENGANADOS [πολὺ πλανᾶσθε] (12:27)

Triste, pois eles foram confrontados no seu erro e no seu pecado, mas preferiram endurecer o coração.

CONCLUSÃO:

Ignorância da Palavra de Deus é algo muito sério. Sem o conhecimento, sem o entendimento verdadeiro e profundo da Bíblia, a pessoa jamais conhece o poder de Deus!

Mais do que ler e estudar a Palavra é necessário você ter um relacionamento com o Senhor Jesus.

O conhecimento profundo (oida) das Escrituras só ocorrerá quando você conhecer (ginosko) o Senhor Jesus – conhecer de forma pessoal e intima.

Empenhem-se em estudar e conhecer a Bíblia, mas acima de tudo, exercitem o seu ser para realmente conhecer a Jesus de forma pessoal.

Jo 17:3 “Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”

Fp 3:10 “Quero conhecer a Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.”
Que possamos ser uma igreja que conhece a Palavra e o poder de Deus, por causa da paixão que queima em nossos corações de estar em comunhão com o nosso Salvador e pela vontade de jamais perambular em erros e não conhecer mais profundo o poder de Deus!

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O Sínodo de Dort

Juliano Heyse

Os famosos cinco pontos do Calvinismo foram propostos originalmente por João Calvino, o grande reformador francês, certo? Errado. Se você pudesse voltar no tempo e perguntasse a Calvino quais são os 5 pontos, ele não teria a menor chance de acertar. Afinal os 5 pontos foram estabelecidos mais de 50 anos após sua morte. E isso não ocorreu em Genebra, nem na França, e sim na Holanda. E é para lá que temos que voltar nossa atenção, mais precisamente para a cidade de Dordrecht.

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Contexto histórico

Antes, porém, convém nos situarmos no tempo. Em 1517, Lutero publica as 95 teses (o início da Reforma Protestante). Quatro anos depois ele é "convidado" a se retratar na Dieta de Worms e lá ele faz o rompimento definitivo com a igreja católica, atrelando sua consciência à Palavra de Deus. Mais tarde, em 1536, na cidade de Genebra, Calvino publica a primeira edição das Institutas da Religião Cristã - a melhor e mais completa sistematização da doutrina protestante até então. Aperfeiçoamentos ocorreram e a edição definitiva só foi fechada 23 anos depois, em 1559. Em 1564, Calvino morreu. Lutero já havia morrido, antes, em 1546. Os dois mais importantes reformadores já não viviam mais sobre a terra quando a nossa história começou.

Quanto a Armínio, muitas pessoas pensam que ele e Calvino travaram calorosos debates em que se digladiavam ferozmente em defesa das suas respectivas posições. Não seria totalmente impossível, mas considerando-se que Armínio tinha quatro anos de idade quando Calvino morreu, não parece razoável imaginar tal quadro. A verdade é que eles jamais se conheceram.

Igreja Reformada Holandesa

Mas vamos à nossa história. Voltamos a nossa atenção para a Holanda, que na época era conhecida como Países Baixos (o território que hoje é ocupado por Bélgica, Holanda e Luxemburgo). É lá que toda a trama acontece. Na época da Reforma o Rei da Espanha, Filipe II, governava os países baixos. O crescimento do protestantismo foi severamente coibido com fortíssimas perseguições e mortes. Estima-se que dezenas de milhares de protestantes foram mortos pelos dirigentes católicos que governavam o país.

A revolta contra os espanhóis foi crescendo até que Guilherme de Orange conseguiu, depois de muitas tentativas, conquistar a tão sonhada independência, mais tarde consolidada por seu filho Maurício de Nassau. Surgia uma nova nação protestante já que o país era, naquela época, de maioria calvinista. Os novos líderes resolveram adotar a religião reformada como religião oficial, utilizando-a como elemento de integração e estabilidade do novo país. Todos os oficiais da igreja reformada holandesa tinham que jurar seguir a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg.

É importante ter em mente a forte ligação entre o estado e a igreja, comum nos tempos da reforma. Só que na Holanda as igrejas tinham uma autonomia relativamente grande, podendo nomear seus oficiais e exercer disciplina sobre os membros. Isso perturbava alguns membros do Estado. Em 1591, uma comissão, presidida por Johannes van Oldenbarnevelt e James Arminius, propôs uma estrutura mais ao gosto do poder secular: a escolha de oficiais da igreja passaria a ser feita por um grupo de representantes (quatro do Estado e quatro da igreja). Isso permitiu uma ingerência muito maior do Estado nos assuntos da igreja. Esta situação - a história mostra - costuma causar problemas. Levando-se em conta que outras religiões eram meramente toleradas (mas não tinham nem o direito de ter seus próprios templos), muitas pessoas vieram para a igreja, cuja vinda não teria ocorrido caso a igreja não fosse oficial do Estado holandês. Repetia-se algo como nos tempos do imperador romano Constantino - a igreja passava a atrair pessoas não regeneradas, muitas vezes com segundas intenções.

A Controvérsia Arminiana

Nessas condições, favoráveis por um lado, mas perigosas por outro, é que surgiu a Controvérsia Arminiana. Duas questões foram levantadas na época - uma doutrinária e outra de política eclesiástica. Primeiro: O ensino de James Arminius era compatível com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg? Afinal, todos os oficiais da igreja haviam se comprometido a permanecerem fiéis a ambos os credos. Segundo: Caso o ensino não estivesse de acordo, a igreja reformada teria poder para destituir aqueles que pregavam doutrinas que conflitavam com aqueles credos?

A questão da autoridade tornou-se problemática porque o governo insistia em manter nos ofícios eclesiásticos pessoas que a igreja considerava que deviam ser destituídas. Dessa forma, entre 1586 e 1618 aumentou muito o número de ministros que permaneciam nas igrejas contra a vontade da congregação e das assembléias eclesiásticas. As igrejas, intranqüilas, exigiam a convocação de um sínodo nacional para esclarecer a situação. Mas o governo central temia o crescente poder das igrejas reformadas e insistia em não permitir a convocação do sínodo.

Foi em meio a tudo isso que James Arminius surgiu - um personagem controverso. Era considerado até pelos seus opositores como sendo um pastor fiel, bom cristão, sóbrio, moderado, homem sincero e de raras habilidades intelectuais. Mas é difícil não concordar com a principal acusação que ele sempre carregou: era um homem que sofria de uma certa "duplicidade". Isso ficará claro quando analisarmos a sua história nos próximos parágrafos.

James Arminius

Armínio nasceu em 1560, no sul da Holanda. Estudou em Genebra com Beza, o sucessor de Calvino. Tornou-se ministro em Amsterdam em 1588. Não foram seus escritos, mas sim sua pregação que começou a chamar a atenção por não parecer muito ortodoxa. Ele decidiu fazer uma pregação expositiva no livro de Romanos. Sua interpretação de boa parte dos primeiros textos do livro surpreendeu seus ouvintes. Mas foi no capítulo 7 que ele trouxe sobre si uma avalanche de protestos. O texto de Romanos 7:14-15 diz: "Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.". Armínio propôs que esse texto se referia a uma pessoa não regenerada, contrariando o que os principais exegetas reformados sempre defenderam, ou seja, que Paulo falava sobre si mesmo, na condição de cristão. Ao pregar em Romanos de 8 a 11, ele enfatizou o tempo todo o livre arbítrio do homem e ao chegar a Romanos 13, afirmou que o Estado tinha a suprema autoridade em assuntos eclesiásticos e religiosos.

Por conta de tudo isso, um de seus colegas, Petrus Plancius, registrou denúncia contra ele para que ele fosse investigado pelo consistório. Havia rumores sobre o novo ensino em todo o país. Armínio, no entanto, confirmava pleno compromisso com a Confissão Belga e com o Catecismo de Heidelberg. No entanto, ficava cada vez mais evidente que ele tinha problemas com o artigo 16 da confissão, o qual afirmava a doutrina da eleição.

Em 1602 surgiu uma vaga na famosa Universidade de Leiden, para suceder um de seus principais professores de teologia, morto pela praga que assolava a Holanda naquele ano. Alguém indicou o nome de James Arminius para sucedê-lo. Havia uma preocupação quanto à ortodoxia de Armínio, e portanto a sua aceitação foi condicionada a uma entrevista com o Dr. Franciscus Gomarus sobre os pontos chaves da doutrina. Gomarus era um famoso Calvinista, profundo conhecedor da Palavra. Diante de diversos comissários, Armínio rejeitou publicamente diversas doutrinas pelagianas quanto a graça natural, livre arbítrio, pecado original e predestinação. Também prometeu jamais ensinar qualquer coisa em desacordo com a doutrina oficial das igrejas. Assim sendo, ele foi aceito como Professor de Teologia da Universidade de Leiden.

Em suas aulas públicas, Armínio permaneceu firme nas suas promessas. Mas em aulas particulares, a alunos selecionados, ele expressava francamente suas dúvidas e questionamentos. Esses alunos foram fortemente influenciados por ele e começaram a propagar alguns desses ensinamentos. Por onde iam, questionavam a doutrina reformada, atacando-a de diversas formas.

Armínio permanecia afirmando estar em pleno acordo com a doutrina reformada enquanto disseminava seus novos pontos de vista nos bastidores. Seus adversários o condenam fortemente por demonstrar absoluta falta de caráter fazendo um tipo de "jogo-duplo". Ao mesmo tempo, seus defensores o elogiam dizendo que tudo o que ele fez foi pensando sempre na unidade da universidade e das igrejas. O leitor pode decidir por si mesmo.

Arminius versus Gomarus

A intranqüilidade aumentava e em 1607 o sínodo da Holanda do Sul recebeu queixas contra os ensinamentos de Armínio. O sínodo convocou James Arminius e o colocou mais uma vez frente a frente com Franciscus Gomarus e os dois expuseram e compararam seus pontos de vista. Mais uma vez Armínio alegou total fidelidade à Confissão Belga e como os delegados não conseguiram perceber grandes diferenças entre o que foi exposto por Arminius e por Gomarus, recomendaram que houvesse tolerância mútua. Outra conferência foi convocada em 1609, também não redundando em avanços. Naquele mesmo ano Armínio morreu de tuberculose.

Os Cinco Artigos do Arminianismo

Com a morte de Armínio, sua causa passou a ser liderada por Johannes Uitenbogaard e Simon Episcopius. Em 1610, sob a liderança de Uitenbogaard, os arminianos se reuniram e elaboraram uma representação (remonstrance - por isso são conhecidos até hoje como os remonstrantes). Nela os arminianos atacavam algumas doutrinas calvinistas e estabeleceram 5 artigos com suas próprias posições:

1. A eleição está condicionada à previsão da fé.
2. Expiação universal (Cristo morreu por todos os homens e por cada homem, de forma que ele conquistou reconciliação e perdão para todos por sua morte na cruz, mas só os que exercem a fé podem gozar desse benefício).
3. Necessária a regeneração para que alguém seja salvo (aparentemente, uma visão perfeitamente ortodoxa, mas mais tarde ficou claro que a visão deles era tal que negava fortemente a depravação da natureza humana).
4. A possibilidade de resistir à graça.
5. A incerteza quanto à perseverança dos crentes (mais tarde eles deixaram claro que não criam de forma alguma na garantia da perseverança).

Os artigos foram assinados por 46 ministros.

Os calvinistas responderam com uma reafirmação da doutrina calvinista. Formou-se o grupo conhecido na história como os contra-remonstrantes. Isso ocorreu em 1611.

A convocação do Sínodo

O poder público não ficou indiferente à controvérsia que ganhava contornos cada vez mais perigosos. Havia pessoas que estavam utilizando a controvérsia religiosa para incitar rebeliões e outras formas de ação política. Assim, em 11 de novembro de 1617, Maurício de Nassau decidiu que um sínodo nacional deveria ser convocado em 1 de novembro de 1618. Estava criado o quadro para o surgimento do famoso Sínodo de Dort.

Encorajado pelo Rei Tiago I da Inglaterra, o governo central holandês enviou convites a diversos representantes de países reformados para que enviassem delegados para participarem do sínodo. O governo holandês requisitava a cada país que fossem enviados alguns de seus teólogos mais renomados, de proeminente erudição, santidade e sabedoria, que com seu conselho e juízo pudessem trabalhar diligentemente para apaziguar as diferenças que tinham surgido nas igrejas da Holanda, trazendo paz àquelas igrejas.

Outro motivo para convidar os teólogos estrangeiros, foi a tentativa de garantir a isenção que os remonstrantes alegavam que a igreja da Holanda não possuia. Uma terceira razão estava ligada ao fato dos remonstrantes alegarem continuamento ao povo que as demais igrejas protestantes compartilhavam da mesma visão que eles. A presença dos delegados estrangeiros poderia dirimir esta e outras dúvidas.

O Sínodo de Dort

Em 13 de novembro de 1618 o Sínodo Nacional de Dort foi estabelecido. Todas as despesas seriam pagas pelo governo holandês. O sínodo era composto de 84 membros e 18 comissários seculares. Dos 84 membros, 58 eram holandeses, oriundos dos sínodos das províncias, e os demais (26) eram estrangeiros. Todos tinham direito a voto.

Após um culto de oração todos foram para o local das reuniões. O moderador era Johannes Bogerman. A primeira atividade foi o pronunciamento do juramento:

"Prometo, diante de Deus em quem creio e a quem adoro, que está presente neste lugar, e que é o Perscrutador de nossos corações, que durante o curso dos trabalhos deste Sínodo, que examinará não só os cinco pontos e as diferenças resultantes deles mas também qualquer outra doutrina, não utilizarei nenhum escrito humano, mas apenas e tão somente a Palavra de Deus, que é a infalível regra de fé. E durante todas estas discussões, buscarei apenas a glória de Deus, a paz da Igreja, e especialmente a preservação da pureza da doutrina. Assim, que me ajude Jesus Cristo, meu Salvador! Rogo para que ele me assista por meio do seu Espírito Santo!"

Os membros foram divididos em 18 comitês. A cada questão proposta ao sínodo, cada um dos comitês formulava sua própria resposta que era depois apresentada ao Sínodo como um todo. O material escrito era entregue aos moderadores que compilavam um texto único. Esse texto era aprovado pelos próprios moderadores ou ia a voto.

O tema principal do Sínodo era o arminianismo. Foram convocados para comparecer diversos teólogos arminianos. Estes se reuniram antes em Rotterdam e nomearam oficiais para representá-los. A estratégia deles era atacar os contra-remonstrantes como sendo fanáticos religiosos. A idéia era centrar forças contra o supralapsarianismo de Gomarus.

Simon Episcopius foi escolhido para ser o orador dos remonstrantes. Logo na segunda reunião, ele já se indispôs com todos e usou de uma artimanha típica dos arminianos. Fez críticas ao Sínodo, ao governo e ao príncipe Maurício. Quando instado a fornecer uma cópia do discurso, alegou que esta estava ilegível. Mais tarde concordou em fornecer uma cópia, mas esta não continha as críticas aos governantes.

A batalha era severa. Os remonstrantes alegavam que o sínodo não tinha competência para julgá-los. Bogerman, o moderador, retrucava dizendo que o sínodo havia sido legalmente constituído pelo poder público. Os remonstrantes deveriam ter aceitado esse argumento, já que sempre defenderam que o estado é a autoridade máxima nas questões religiosas e eclesiásticas. Ao serem convidados a colocar no papel suas divergências em relação à Confissão Belga, os remonstrantes negaram-se a obedecer. Quando Bogerman perguntou se eles reconheciam os artigos da representação de 1610, permaneceram calados.

Como os remonstrantes dificultavam demais os trabalhos, em 14 de janeiro de 1619 Bogerman perguntou a eles definitivamente se eles iriam comportar-se e submeter-se ao Sínodo. Eles responderam que não se submeteriam ao Sínodo. Irritado, Bogerman precipitou-se e mandou-os embora sem consultar os demais membros. As mesas e cadeiras dos arminianos foram retiradas e passou-se a analisar suas opiniões através de seus escritos. O principal documento analisado foi a representação de 1610 com seus 5 artigos.

Os Cânones de Dort

O documento final, os Cânones de Dort, foi formulado em 93 artigos, separados em 5 pontos de doutrina. O documento foi assinado por todos os delegados em 23 de Abril de 1619. Foram ao todo 154 reuniões ao longo de sete meses. Prevaleceu a interpretação ortodoxa.

Muitos consideram injustas as medidas tomadas após o sínodo. Afinal, mais de 200 ministros remonstrantes foram depostos de seus cargos. Alguns se retrataram e retornaram às suas funções, mas boa parte foi definitivamente banida. Mas é bom lembrar que o que hoje seria considerado, talvez, indevida perseguição religiosa, era uma prática absolutamente comum a todas as religiões e países da época.

É importante entender também que os ministros remonstrantes eram muitas vezes mantidos em seus cargos apesar de estarem violando o juramento que fizeram de manterem-se fiéis à confissão belga e ao catecismo de Heidelberg. Isso era conseguido por meio do apoio de políticos poderosos. Enquanto isso, os mesmos políticos perseguiam os contra-remonstrantes chegando ao ponto, em algumas situações, de impedir-lhes o acesso ao local de culto. A religião e a controvérsia eram freqüentemente usadas para fins políticos.

Pode-se dizer que ocorreu com os arminianos o que já aconteceu centenas de vezes na história da igreja. Nas palavras de Johns R. de Witt:

"um homem raramente é honesto o suficiente para sair de sua igreja, se suas convicções são incompatíveis com as daquela igreja. Normalmente ele tenta, por meio de uma estranha linha de argumentação casuística, converter a igreja ao seu próprio entendimento da verdade".

Os arminianos, ao romperem suas promessas e no entanto permanecerem atuando na igreja, encaixaram-se perfeitamente nessa descrição.

É bom lembrar que outras religiões eram toleradas na Holanda naquele período, apesar de não poderem construir templos próprios. Entre estes haviam peregrinos, luteranos, anabatistas e até mesmo católicos romanos. Mas nenhum deles ameaçava a igreja "de dentro" como faziam os arminianos.

Conclusão

O Sínodo de Dort foi importante por ter mostrado a tentativa dos arminianos de diminuírem a soberania de Deus na salvação, engrandecendo o papel do homem na sua própria salvação.

Mais tarde, os cinco pontos de divergência em relação aos artigos arminianos passaram a ser conhecidos como os "cinco pontos do calvinismo" e um acróstico foi criado para facilitar a lembrança de cada ponto. A esse acróstico deu-se o nome de TULIP:

T otal depravação
U ma eleição incondicional
L imitada expiação
I rresistível graça
P erseverança dos santos

É importante frisar que os cinco pontos e os cânones de Dort não são uma exposição da doutrina reformada. Esta é muito mais abrangente. Longe de serem uma exposição do calvinismo, os cinco pontos servem muito mais para enfatizar diferenças entre o calvinismo e o arminianismo, principalmente na relação da soberania de Deus com a salvação. O ensino de Calvino é muito mais amplo e abrangente e, no que se refere aos cinco pontos, alguns deles ele nem sequer tratou em profundidade, como é o caso, por exemplo, da expiação limitada.

Acreditamos firmemente que é importante conhecer as origens daquilo em que cremos e perceber que, tal qual ocorreu com outras doutrinas como a Trindade e a dupla natureza de Cristo, a verdade de Deus esteve sempre sob ataque e homens corajosos sempre se levantaram para batalhar "diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3). Graças a Deus.

 

Bibliografia

Seaton, W. J., Os Cinco Pontos do Calvinismo (São Paulo - Editora PES)

Wikipedia, Synod of Dort, https://en.wikipedia.org/wiki/Synod_of_Dort

Vandergugten, S., The Arminian Controversy and the Synod of Dort,
https://www.spindleworks.com/library/vandergugten/arminian_c.htm

Wikipedia, Five Points of Calvinism,
https://en.wikipedia.org/wiki/Five_points_of_Calvinism                                                                                   

Leituras e Textos


João Calvino

CALVINO E SERVETO

Augustus Nicodemus Lopes

Gerações sempre estão passando a limpo pontos obscuros da história de seus antepassados. Assistimos, no momento, a tentativa de vários grupos alemães de trazer a lume aspectos do envolvimento do povo alemão no Holocausto que serviriam para amenizar a sombra que paira sobre a nação pelo assassínio de milhares de judeus durante a Segunda Guerra. Recentemente, o Dr. Frans Leonard Schalkwijk, em sua obra Igreja e Estado no Brasil Holandês, lançou luz sobre a figura do “traidor” Calabar, demonstrando que a “traição” foi, na verdade, sua conversão ao Evangelho pregado pelos holandeses reformados. Quem sabe o presente artigo possa ajudar a passar a limpo alguns aspectos do tristemente famoso episódio envolvendo João Calvino e a execução na fogueira do médico espanhol Miguel Serveto, condenado por heresia contra a Trindade, em 1553, em Genebra.


Preciso dizer desde o início que minha intenção não é justificar a participação de Calvino no incidente. Não posso concordar com a pena de morte como castigo para a heresia, muito menos se o método de execução é queimar vivo o faltoso. Até mesmo os maiores heróis do passado tomaram decisões e fizeram declarações que nos causam, séculos depois, estranheza e discordância. Calvino não é nenhuma exceção. Meu alvo neste artigo não é defendê-lo como se ele fosse sem defeitos. É claro que ele os tinha. É claro que ele errou. Mas penso que, particularmente no caso envolvendo a execução de Serveto por heresia em Genebra, durante o tempo em que Calvino ali ministrava, nem sempre vozes se têm levantado para apresentar outra versão dos fatos, versão esta enraizada em documentos confiáveis. Episódios do passado devem ser entendidos à luz dos conceitos e valores da época em que ocorreram. Meu alvo é expor alguns deles que estavam vigentes na época de Calvino, bem como trazer dados freqüentemente ignorados sobre o episódio. Não podemos justificar Calvino por pedir a pena de morte para Serveto, mas podemos entender os motivos que o levaram a isto.


Testemunhas que viveram em Genebra logo após a cidade haver abraçado a Reforma protestante, viram-na como “o espelho e modelo de verdadeira devoção, um abrigo para os refugiados perseguidos por sua fé, um lugar seguro para treinar e enviar ao estrangeiro soldados do Evangelho e ministros da Palavra.” Logo que Genebra abraçou a Reforma oficialmente e cortou suas lealdades para com o bispo e duque de Savóia, a cidade foi inundada por refugiados de toda a Europa. Da noite para o dia Genebra se tornou, depois de Wittenberg, Zurique e Estrasburgo, um monumento da fé protestante.


Apesar dessas observações feitas por pessoas que viveram em Genebra na época destes acontecimentos, as impressões que recebemos de nossos professores de escola secundária provavelmente têm pouco, ou nada, em comum com o depoimento destas testemunhas oculares. Segundo Michael Horton, “abundam imagens de um tirano vestido de toga preta, organizando o equivalente no século XVI de uma polícia secreta moderna para assegurar que ninguém, a qualquer hora ou em qualquer lugar, estivesse se divertindo”. É de admirar que, apesar dos testemunhos em contrário, prevaleceu na opinião pública a idéia de que Genebra era uma teocracia e Calvino era seu papa!


Em 25 de maio de 1536 os cidadãos de Genebra decidiram aderir à Reforma protestante. Mas isso era só o começo. Sem liderança qualificada, Genebra estava à beira do colapso civil e religioso. O que a nova república precisava era de um jovem visionário. Calvino chegou em Genebra fugindo das autoridades de Paris. Ele havia inicialmente se encaminhado para a cidade reformada de Estrasburgo, onde Martin Bucer estava pregando. Porém, o rei francês e o imperador alemão estavam envolvidos em uma guerra que bloqueou o caminho para a cidade. Frustrado, mas destemido, Calvino tomou um desvio para Genebra durante a noite. De lá não passaria. Ficou, a pedido insistente de Farel, líder protestante da cidade, e depois de algum tempo foi designado pastor da igreja de São Pedro, a catedral de Genebra. Tensões entre Calvino, Farel e o Conselho Municipal com respeito à celebração da Ceia do Senhor, as atribuições da Igreja e do Estado e o exercício da disciplina, acabaram por levar o Conselho a expulsar Calvino de lá. E ele seguiu, exilado, para Estrasburgo.


Ali (1538-41), Calvino sentiu-se como se estivesse no céu. Martin Bucer tornou-se o seu mentor. Calvino assumiu o pastorado da igreja reformada francesa da cidade. Durante este tempo, ele publicou alguns dos seus trabalhos mais notáveis; ali casou-se com Idelette de Bure, a viúva de um amigo anabatista. Calvino estava muito feliz ali, mas uma vez mais Genebra o chamou.


O Conselho municipal escreveu a Calvino pedindo ajuda contra o ensino do Cardeal Sadoleto, que procurava chamar Genebra de volta para a Igreja Católica. Pediu desculpas e, com mais um apelo de Farel, convenceu Calvino a voltar. Dr. McGrath, historiador da Universidade de Oxford, demonstra como o mito do “grande ditador de Genebra” está enraizado em conceitos populares difundidos especialmente pelas obras de Bolsec e Huxley, que fizeram afirmações sem ter qualquer fato histórico que os apoiasse, mas que não obstante acabaram por moldar a visão de Calvino que hoje prevalece em muitos meios evangélicos. Calvino não tinha qualquer acesso à máquina decisória do Conselho. Ele mesmo não podia votar e nem concorrer a qualquer cargo político eletivo. E mesmo quanto aos negócios da Igreja, Calvino quase não tinha qualquer poder decisório.


A 25 de outubro de 1553 o Conselho municipal emitiu o decreto que condenava Miguel Serveto a ser queimado na estaca por heresia. De fato, foi Calvino quem o denunciou e quem pediu a pena de morte para ele. Vejamos agora o contexto em que isso aconteceu.


1. A pena de morte por heresia era prática geral da Idade Média.

2. Serveto chegou a Genebra fugido de Viena e da França, onde havia sido condenado à morte pela Igreja Católica, sob a acusação de heresia contra a Trindade.

3. Serveto foi a Genebra apesar dos avisos de Calvino de que isto poderia custar-lhe a vida.

4. Chegando em Genebra, se fez conhecido de Calvino em público. Foi preso e, embora Calvino fosse um teólogo e advogado treinado (havia mesmo sido empregado pelo Conselho municipal para elaborar a legislação relativa à previdência social e ao planejamento dos serviços de saúde pública), mesmo assim não foi o promotor do processo eclesiástico contra Serveto. Lembremos que ele não tinha nem os mesmos direitos de um cidadão comum!

5. Calvino aceitava a pena de morte, não somente para os que matavam o corpo de seus semelhantes, mas também para os que lhes matavam a alma através do veneno mortal do erro religioso.

6. Por outro lado, não foram as convicções teológicas de Calvino que o levaram a isto. Não se pode culpar as suas convicções, particularmente sua firme crença na soberania de Deus, pela execução de Serveto.

7. Calvino havia se correspondido com Serveto e há alguma evidência nessas cartas de que ele tinha tentado até mesmo encontrar-se clandestinamente com o anti-trinitário para tentar convencê-lo do seu erro.

8. Calvino estava nessa época no maior calor de suas batalhas contra o Conselho municipal. O grupo dos Libertinos exercia dentro do Conselho forte oposição a ele. Caso ele tivesse pedido a execução de Serveto, a reação provável do Conselho teria sido negar.

9. Há outro fato a ponderar. Quando foi dada a Serveto a escolha da cidade onde seria julgado, ele escolheu Genebra. A outra opção era Viena, de onde viera fugido. Por alguma razão, ele deve ter pensado que suas chances de sobrevivência eram melhores em Genebra. Porém, o Conselho municipal da cidade, conduzido pela facção dos Libertinos, totalmente contrários a Calvino, estava determinado a mostrar que Genebra era uma cidade reformada e comprometida com os credos. E assim, Serveto foi condenado a ser queimado vivo.

10. Calvino suplicou ao Conselho que executasse Serveto de uma maneira mais humanitária do que o ritual tradicional de queima de hereges. Mas, claro, o Conselho municipal recusou o argumento de Calvino. Farel visitou Calvino durante a execução. Calvino estava tão transtornado, como foi mais tarde comunicado, que Farel partiu sem mesmo dizer adeus.

11. A execução de Serveto foi aprovada por todas as demais cidades-estados reformadas e por todos os reformadores. Lutero e Zwinglio já haviam morrido, mas certamente haveriam concordado. O próprio Lutero havia consentido na execução de camponeses revoltosos. Os demais, Bullinger, Beza, Bucer, etc., todos deram apoio irrestrito a Calvino.


Estes são alguns fatos que devemos lembrar antes de chamarmos Calvino de “assassino”. A propósito, durante este mesmo período trinta e nove hereges foram queimados em Paris, vítimas da Inquisição católica, que estava sendo aplicada com rigor na Espanha, Itália e outras partes de Europa. Apesar do fato de que muitos que não eram ortodoxos buscaram (e encontraram) refúgio em Genebra, fugindo das autoridades católicas, Serveto foi o único herege a ser queimado naquela cidade durante a distinta carreira de Calvino.


Até mesmo os judeus foram convidados pelas cidades-estados reformadas para se abrigarem nelas, fugindo da Inquisição. O puritano Oliver Cromwell, líder do Parlamento inglês por um período, mais tarde tornou a Inglaterra um abrigo seguro para os dissidentes religiosos, e especialmente para os judeus. O mesmo ocorreu nos Países Baixos (atual Holanda). E mesmo hoje, Genebra e Estrasburgo, outrora reformadas, figuram no topo da lista como cidades que se destacam em termos de direitos humanos e relações internacionais.


O que muitos ignoram é que Calvino era um pastor atencioso, que visitava pacientes terminais de doenças contagiosas no hospital que ele mesmo havia estabelecido, embora fosse advertido dos perigos de contágio. Foi ele quem instou o Conselho a afiançar empréstimos a baixos juros para os pobres. Foi ele quem defendeu a educação universal e gratuita para todos os habitantes da cidade, como Lutero e outros reformadores tinham feito. Sua preocupação diária em 1541 era como dar a Genebra uma universidade.


Eis aí o famoso “tirano de Genebra”! Penning escreve que, no fim da vida de Calvino, ao ser visto nas ruas da cidade, os moradores diziam: “Lá vai o nosso mestre Calvino”. Em 10 de março de 1564, o Conselho decretou um dia de oração pela saúde de Calvino e o reformador recuperou-se durante um tempo. Na Páscoa desse ano, Calvino foi levado à igreja carregado em sua cadeira para participar da Ceia do Senhor, devido ao seu extremo estado de fraqueza. Quando a enorme congregação o viu chegar assim, começou a lamentar-se e a chorar. No sábado, 27 de maio, Calvino morreu aos cinqüenta e cinco anos de idade. Quando à noite as notícias da sua morte se espalharam pela cidade, “Genebra lamentou-se como uma nação lamenta quando perde seu benfeitor”, escreve Penning.


A execução de Serveto permanece como uma mancha na história da distinta carreira de Calvino em Genebra. Usá-la, porém, para denegrir sua imagem, para atacar a sua teologia e para envergonhar os calvinistas, é expediente preconceituoso de quem não deseja ver todos os fatos.                          

                                                                                                                               Leituras e Textos

Os Cinco Solas da Reforma
Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria

por

Declaração de Cambridge

SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade

Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.

Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.

A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.

A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.

Tese 1: Sola Scriptura

Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.

SOLO CHRISTUS: A Erosão da Fé Centrada em Cristo

À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa visão.

Tese 2: Solus Christus

Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.

Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

SOLA GRATIA: A Erosão do Evangelho

A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.

A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.

Tese 3: Sola Gratia

Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

SOLA FIDE: A Erosão do Artigo Primordial

A justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa pregação.

Muitas pessoas ligadas ao movimento do crescimento da igreja acreditam que um entendimento sociológico daqueles que vêm assistir aos cultos é tão importante para o êxito do evangelho como o é a verdade bíblica proclamada. Como resultado, as convicções teológicas freqüentemente desaparecem, divorciadas do trabalho do ministério. A orientação publicitária de marketing em muitas igrejas leva isso mais adiante, apegando a distinção entre a Palavra bíblica e o mundo, roubando da cruz de Cristo a sua ofensa e reduzindo a fé cristã aos princípios e métodos que oferecem sucesso às empresas seculares.

Embora possam crer na teologia da cruz, esses movimentos a verdade estão esvaziando-a de seu conteúdo. Não existe evangelho a não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele Ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para nossa aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo; a base não é nosso patriotismo, devoção à igreja, ou probidade moral. O evangelho declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que nós podemos fazer para alcançar Deus.

Tese 4: Sola Fide

Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.

Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.

SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus

Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.

Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.

Tese 5: Soli Deo Gloria

Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.


Fonte: Declaração de Cambridge

Por Solano Portela

I. POR QUE LEMBRAR A REFORMA?

Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero pregou as suas hoje famosas 95 Teses na porta da catedral de Wittenberg. Periodicamente as igrejas evangélicas relembram aqueles eventos que, na soberana providência de Deus, preservaram viva a Sua Igreja. Muitos, entretanto, questionam essas comemorações e alguns chegam até a contestar a lembrança da Reforma. “Por que considerar o que aconteceu há quase 500 anos?”

Seguramente, muitos não estudam a Reforma por mero desconhecimento do fato, por falta de informação ou por não se aperceberem da sua importância na vida da Igreja e da humanidade. Outros há que procuram um esquecimento voluntário daqueles eventos do século XVI. Martin Lloyd-Jones nos fala que entre aqueles que rejeitam a memória da Reforma temos, basicamente, dois tipos de argumentação: 1º) Dos que dizem que o passado nada tem a nos ensinar; e 2º) Dos que vêem a Reforma como uma tragédia na história religiosa da humanidade. Para os primeiros, somente o progresso científico e o futuro nos interessam. Firmadas em uma mentalidade evolucionista, estas pessoas partem para uma abordagem histórica de que o presente é sempre melhor do que o passado. Eles nada enxergam na história que possa nos servir de lição, apoio, ou alerta. Já para os segundos, devemos estudar a unidade e não um movimento que trouxe a divisão e o cisma ao cristianismo. Para eles, perdemos tempo quando nos ocupamos de algo “tão negativo”.

Podemos dar graças, entretanto, pelo fato de que um segmento da Igreja ainda acha importante relembrar e aplicar as questões levantadas pelos Reformadores. Contudo, o mesmo Martin Lloyd-Jones alerta para um perigo que ainda existe no interesse pelos acontecimentos que marcaram o século XVI. Na realidade, ele nos confronta com uma forma errada e uma forma certa de relembrar o passado, do ponto de vista religioso.

A forma errada seria estudar o passado por motivos meramente históricos. Esse estudo seria semelhante à abordagem que um antiquário dedica a um objeto. Por exemplo, quando ele examina uma cadeira, não está interessado se ela é confortável, se dá para sentar-se bem nela, ou se ela cumpre adequadamente a sua função de cadeira. Basicamente, a preocupação se resume à sua idade, ao seu estado de conservação e, principalmente, a quem ela pertenceu. Isso determinará o valor daquele objeto para o antiquário e motivará o seu estudo.

Em Mateus 23:29-35 teríamos um exemplo dessa abordagem errada do passado. O trecho diz:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os túmulos dos justos e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas! Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Por isso, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o santuário e o altar.

Jesus diz que aqueles homens pagavam tributo à memória dos profetas e líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história que cuidavam dos sepulcros e os enfeitavam, proclamavam a todos que os profetas eram homens bons e nobres, e atacavam quem os havia rejeitado. Diziam eles: “se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito isso!” Mas Jesus não Se impressiona e os chama de hipócritas! A argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se dizem admiradores dos profetas, como é que estão contra aqueles que representam os profetas e proclamam a mesma mensagem que eles proclamaram? Jesus testou a sinceridade deles pondo a descoberto a atitude que mantinham contra aqueles que pregavam a mensagem de Deus e mostra que eles próprios seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dos profetas de Deus.

Esse é também o nosso teste: Alguém pode olhar para trás e louvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitar, no presente, aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmo admiradores da Reforma promovida por aqueles grandes profetas de Deus?

Mas existe uma forma correta de relembrar o passado. Ela pode ser deduzida não apenas por exclusão e inferência do texto anterior, mas principalmente da passagem de Hebreus 13:7-8, que diz:

Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.

A maneira correta de relembrar a Reforma é, portanto, verificar a mensagem, a Palavra de Deus como foi pregada; e isso não apenas por um interesse histórico de “antiquário”, mas com o bom propósito de imitar a fé ali demonstrada. Devemos observar esse evento e aqueles homens, para aprender e seguir os seus exemplos, discernindo a sua mensagem e aplicando-a aos nossos dias.

II. DISTORÇÕES VERIFICADAS NA LEMBRANÇA DA REFORMA

Muitos de nós, que crescemos neste país de maioria católica, já ouvimos, numa ou noutra ocasião, alguma posição distorcida tanto sobre os fatos da Reforma do Século XVI quanto sobre os Reformadores. Uma das versões comuns, na visão da Igreja Católica, apresenta Lutero como um monge que queria casar-se e que por isso teria brigado com o Papa. Outros dizem que Lutero ambicionava o poder político; e ainda outros falam que Lutero era apenas um místico rebelde, sem convicções reais e profundas. Até mesmo a descrição dele como doente da alma, psicopata, enganador e falso profeta permanece em vários escritos de historiadores famosos do período. Um famoso autor e historiador católico brasileiro chegou a escrever que “excomungado em Worms, em 1521, Lutero entregou-se ao ócio e à moleza.”

Em anos mais recentes, um novo tipo de abordagem da Reforma tem surgido nos círculos católicos, embora continue representando alguma forma de distorção. Por exemplo, em 1983, quando se completaram 500 anos desde o nascimento de Lutero, o Papa participou de algumas cerimônias comemorativas do evento na Alemanha. Certamente o Papa não fez por convencimento das verdades ensinadas por Lutero, pois a igreja que representa nada mudou doutrinariamente após a sua participação. A visita do Papa evidencia, entretanto, uma comprovação de que a imagem de Lutero e os princípios que pregava estão sendo alvos de um revisionismo histórico para fins de distorções. Diluir a força das doutrinas que Lutero pregava possibilita uma aproximação com os fatos históricos descontextualizados.

Em 1967, nos 450 anos da Reforma, a revista TIME escreveu o seguinte: “O domingo da Reforma está se tornando um evento ecumênico que olha para o futuro, em vez de para o passado.” Na mesma ocasião, um semanário jesuíta fez esta afirmação: “Lutero foi um profundo pensador espiritual que foi levado à revolta por papas mundanos e incompetentes.” Essas colocações fazem da Reforma uma revolta contra pessoas individuais e não contra um sistema de doutrinas de uma igreja apóstata, que continua persistindo em seus conceitos e práticas divorciados da Palavra de Deus.

Refletindo o sentimento ecumênico que tem permeado a segunda metade do século XX, bispos das Igrejas Católica e Luterana dos Estados Unidos fizeram uma declaração solidária, no aniversário da Reforma, dizendo o seguinte: “…recomendamos um programa conjunto, entre os membros de nossas igrejas, de estudos, reflexão e oração.” Podemos imaginar os jesuítas, consciente e sinceramente, fazendo orações, estudos e reflexões em comemoração à Reforma do Século XVI? Certamente isso só seria possível se os jesuítas ignorassem os pontos doutrinários fundamentais levantados pelos Reformadores.

Refletindo uma visão político-sociológica da Reforma, uma outra distorção permeou, durante muito tempo, o pensamento revisionista da história. Na época em que o comunismo ainda imperava na Europa Oriental, porta-vozes do partido comunista da Alemanha relembraram Lutero como sendo “um precursor da revolução.”

III. ESQUECIMENTO DOUTRINÁRIO DOS PRINCÍPIOS DA REFORMA

Muitas das comemorações conjuntas da Reforma por católicos e protestantes, descritas acima, só ocorrem porque não se falam nas doutrinas principais levantadas pelo movimento do século XVI. Tristemente, temos observado que mesmo no campo chamado “evangélico” a situação é semelhante. Raras são as igrejas e denominações evangélicas que ensinam o que foi a Reforma do Século XVI e muito poucas as que comemoram o evento e aproveitam para relembrar e reaplicar os princípios nela levantados. Mais recentemente, temos observado que tem sido removida a clara linha que separa o protestantismo do catolicismo quanto ao entendimento da fé cristã e da salvação. Isso, que até alguns anos atrás era praticado somente pela teologia liberal – que já havia declaradamente abandonado os princípios norteadores da Palavra de Deus – hoje está presente no campo protestante evangélico.

Essa falta de discernimento e conhecimento histórico, prático e teológico tem-se achado até mesmo dentro do campo ortodoxo, incluindo teólogos reformados e tradicionais. Referimo-nos ao documento “Evangélicos e Católicos Juntos” (Evangelicals and Catholics Together), publicado em 1994 nos Estados Unidos, e que tem sido uma fonte de controvérsia desde a sua divulgação.

A base e intenção do documento foi a realização de ações conjuntas de cunho moral-político por católicos e protestantes, mas ele evidencia uma grande falta de discernimento e sabedoria. Por exemplo, o documento defende que as pessoas convertidas devem ser respeitadas na decisão de se filiar ou a uma igreja católica ou a uma protestante. Estas declarações foram emitidas como se a fé fosse a mesma, como se a doutrina fosse igual, como se a base dos ensinamentos fosse comum, como se as distinções inexistissem ou fossem extremamente secundárias.

A premissa básica do documento “Evangélicos e Católicos Juntos” é que a evangelização de católicos é algo indesejável e não recomendável, uma vez que a verdadeira fé e prática cristã já devem estar presentes na Igreja de Roma. Em sua essência, esse documento é a grande evidência do esquecimento da Reforma do Século XVI e do que ela representou e representa para a verdadeira Igreja de Cristo.

Algum evangélico poderia argumentar, “mas isso é coisa de americano, não atinge o nosso país!” Ledo engano! A conhecida e prestigiada Revista Ultimato trouxe em suas páginas, no número de setembro de 1996, artigos e depoimentos advindos do campo evangélico ortodoxo, refletindo basicamente a mesma compreensão do documento “Evangélicos e Católicos Juntos”, ou seja: que as distinções relativas à Igreja de Roma seriam secundárias e não essenciais.

Tal situação reflete pelo menos uma crassa ignorância da doutrina católica romana. Por exemplo os cânones 9 e 11 do Concílio de Trento, escritos no auge da Contra-Reforma, mas nunca abrogados até os dias de hoje, dizem o seguinte:

Cânon 9—Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, querendo dizer que nada coopera com a fé para a obtenção da graça da justificação; e se alguém disser que as pessoas não são preparadas e predispostas pela ação de sua própria vontade—que seja maldito.

Cânon 11—Se alguém disser que os homens são justificados unicamente pela imputação da justiça de Cristo ou unicamente pela remissão dos seus pecados, excluindo a graça e amor que são derramados em seus corações pelo Espírito Santo, e que permanece neles; ou se alguém disser que a graça pela qual somos justificados reflete somente a vontade de Deus—que seja maldito.

Estas declarações, ou melhor, maldições, foram pronunciadas contra os protestantes. Elas atingem o cerne da doutrina da justificação somente pela fé e são contrárias à defesa inabalável da soberania de Deus na salvação, proclamada pela Reforma do Século XVI. Essas maldições continuam fazendo parte dos ensinamentos da Igreja Católica.

A visão distorcida do Evangelho e da evangelização, no campo católico romano, não é algo que data apenas da Era Medieval. Vejam esta declaração extraída da encíclica papal “O Evangelho da Vida,” escrita e divulgada à Igreja em 1995:

O Evangelho é a proclamação de que Jesus possui um relacionamento singular com todas as pessoas. Isso faz com que vejamos em cada face humana a face de Cristo.

Certamente teríamos que chamar esta visão do Evangelho de universalismo e declará-la contrária à fé cristã histórica.

Perante esse emaranhado de opiniões tão diferenciadas; perante o testemunho e o registro implacável da história; perante a crise de identidade, de doutrina e de prática litúrgica que nossas igrejas atravessam, qual deve ser a nossa compreensão da Reforma?

IV. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS SOBRE A REFORMA E OS REFORMADORES

Nosso apreço pela Reforma e pelas suas doutrinas não deve nos levar a uma visão utópica e idealista com relação aos seus personagens principais. Devemos reconhecer os seus feitos, mas também as suas limitações. É na compreensão da falibilidade humana que detectamos a mão soberana de Deus empreendendo os seus propósitos na história. Vejamos alguns pontos que valem a pena ser recordados:

A. Lutero foi um homem falível

As 95 Teses de Lutero realmente representaram um marco e um ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas. Entre as teses, encontramos expressões de compreensão dos ensinamentos da Bíblia, como por exemplo na tese 62 (“O verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus”) e na tese 94 (“Os cristãos devem ser exortados a seguir a Cristo, a sua cabeça, com diligência”). Entretanto, devemos reconhecer que elas estão longe de ser, em sua totalidade, expressões precisas da verdadeira fé cristã. Elas registram, na realidade, o início do pensamento de Lutero, que seria trabalhado e refinado por Deus ao longo de estudos e experiências posteriores do Reformador. Vejamos os seguintes exemplos:

Lutero faz referência ao Purgatório, sem qualquer contestação à doutrina em si, em 12 das suas teses (teses 10,11, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 25, 26, 29, 82). Ex.: Tese 29: “Quem disse que todas as almas no Purgatório desejam ser redimidas? Temos exceções registradas nos casos de S. Severino e S. Pascal, de acordo com uma lenda sobre eles”.

Além da menção aos santos na tese acima, Lutero faz referência a Maria como mãe de Deus (Tese 75), aparentemente não no sentido histórico do termo (o termo histórico, em grego Theotokos, tinha o propósito de reconhecer a divindade de Jesus), mas no conceito católico da expressão, que infere a existência de um poder especial em Maria: Diz a Tese 75– “É loucura considerar que as indulgências papais têm tão grande poder que elas poderiam absolver um homem que tivesse feito o impossível e violado a própria mãe de Deus.”

Quatro teses sugerem legitimidade ao papado e à sucessão apostólica (77, 5, 6, 9). Ex.: Tese 77: “É blasfêmia contra São Pedro e contra o Papa dizer que São Pedro, se fosse o papa atual, não poderia conceder graças maiores [do que as atualmente concedidas].”

Além disso, verificamos que resquícios do romanismo se fizeram presentes na formulação da Igreja Luterana, principalmente na sua estruturação hierárquica e na compreensão quase católica dos elementos da Ceia do Senhor. Possivelmente poderíamos também dizer que na Reforma encontramos individualismo em excesso e falta de unidade entre irmãos de mesma opinião teológica (principalmente nas interações dos luteranos com Zwinglio e Calvino). Mas, com todas essas limitações, os Reformadores foram poderosamente utilizados por Deus na preservação das Suas verdades.

B. A revolta de Lutero foi eminentemente espiritual

Não poderemos compreender a Reforma se acharmos que Lutero foi movido por uma revolta contra pessoas, contra padres corruptos, apenas. A ação de Lutero foi uma revolta contra uma estrutura errada e uma doutrina errada de uma igreja que distorcia a salvação. A Reforma não foi um movimento sociológico; Lutero não pretendia ensinar a salvação do homem pela reforma da sociedade, embora compreendesse que a sociedade era reformada pelas ações do homem resgatado por Deus. Na realidade, a Reforma do Século XVI foi um grande reavivamento espiritual operado por Deus, que começou com uma experiência pessoal de conversão.

C. Lutero não formulou novas doutrinas, ou novas verdades, mas redescobriu a Bíblia em sua pureza e singularidade

As 95 Teses representam coragem, desprendimento, uma preocupação legítima com o estado decadente da Igreja, e uma busca dos verdadeiros ensinamentos da Palavra. Mas é um erro achar que a Reforma marca a aparição de várias doutrinas nunca dantes formuladas. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam soterradas sob o entulho da tradição, é que foi resgatada. Uma das características comuns das seitas é a presunção de ter descoberto supostas verdades que eram totalmente desconhecidas até que foram reveladas a algum líder. Essas “verdades” passam a ser determinantes na interpretação das demais e tornam-se o ponto central dos ensinamentos da seita. A Reforma coloca-se em completa oposição a esta característica. Nenhum dos Reformadores declarou ter “descoberto” qualquer verdade oculta. Eles tão somente apresentavam, com toda singeleza, os ensinamentos das Escrituras. Seus comentários e controvérsias versavam sempre sobre a clara exposição da Palavra de Deus.

Mais uma vez, Martin Lloyd-Jones nos indica “que a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás.” Lutero e Calvino, diz ele, “foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido.”

V. A MENSAGEM DA REFORMA PARA OS DIAS DE HOJE

As mensagens proclamadas pela Reforma continuam sendo pertinentes aos nossos dias. Da mesma forma como a Palavra de Deus é sempre atual e representa a Sua vontade ao homem, em todas as ocasiões, a Reforma, com suas mensagens extraídas dessa mesma Palavra, transborda em atualidade para a cena contemporânea da Igreja Evangélica. Vejamos apenas alguns pontos pregados pelos Reformadores e a sua aplicação presente:

A. A Reforma resgatou o conceito de pecado – Rm 3:10-23

A venda das indulgências mostra como o conceito do pecado estava distorcido na ocasião da Reforma do Século XVI. A Igreja Medieval e, principalmente, as ações de Tetzel, fugiram totalmente da visão bíblica de que pecado é uma transgressão da Lei de Deus, qualquer falta de conformidade com Seus padrões de justiça e santidade. A essência do pecado foi banalizada ao ponto de se acreditar que o seu resgate podia se efetivar pelo dinheiro. É fácil ver as implicações que a falta de um conceito bíblico de pecado traz para outras doutrinas chaves da fé cristã. Por exemplo: se o resgate é em função da soma de dinheiro paga, como fica a expiação de Cristo, qual a necessidade dela? Ao se insurgir contra as indulgências, Lutero estava, na realidade, reapresentando a mensagem da Palavra de Deus sobre o homem, seu estado, suas responsabilidades perante o Deus Santo e Criador e sua necessidade de redenção.

Hoje, estes conceitos estão cada vez mais ausentes da doutrina da Igreja contemporânea. A mensagem da Reforma continua necessária aos nossos dias. Estamos nos acostumando a ouvir que todas as ações são legítimas; que pecado é uma conceito relativo e ultrapassado; que o que importa é a felicidade pessoal e não a observância de princípios. Mesmo nos meios evangélicos, existe grande falta de discernimento — há uma preocupação muito maior com a necessidade de encontrar justificativas, explicações e racionalizações do que com a convicção e o arrependimento.

B. A Reforma pregou a doutrina da Justificação somente pela Fé – Gl. 3:10-14

A Igreja Católica havia distorcido o conceito da salvação, pregando abertamente que a justificação se processava por intermédio das boas obras de cada fiel. Lendo a Palavra, Lutero verificou o quão distanciada essa pregação estava das verdades bíblicas — a salvação é uma graça concedida mediante a fé e as boas obras não fornecem a base para ela; mas apenas a evidenciam e são subprodutos dela. A salvação procede da infinita misericórdia de Deus para com o homem pecador. É Deus quem arranca o homem da lama e perdição do pecado. Enfim, a obra completa da salvação é realizada por Deus.

Hoje, estamos novamente perdendo essa compreensão – a mensagem da Reforma é necessária. A justificação pela fé continua sendo esquecida e procura-se a justificação pelas obras. Muitas vezes prega-se e procura-se a justificação perante Deus através do envolvimento em ações de cunho social.

A justificação pela fé está sendo, ultimamente, considerada um ponto secundário, mesmo no campo evangélico. Assim, muitos têm partido para trabalhos de ampla cooperação, como base de fé e de unidade, como vimos no pensamento expresso pelo documento já referido: Evangélicos e Católicos Juntos.

C. A Reforma resgatou o conceito da autoridade vital da Palavra de Deus – 2 Pe 1:16-21

Na ocasião da Reforma, a tradição da Igreja já havia se incorporado aos padrões determinantes de comportamento e da doutrina e, na realidade, já havia abandonado as prescrições das Escrituras. A Bíblia era conservada distante e afastada da compreensão dos devotos; era considerada um livro só para os entendidos, um livro obscuro e até perigoso para as massas. Os Reformadores redescobriram e levantaram bem alto o único padrão de fé e prática: a Palavra de Deus e, por este padrão, aferiram tanto as autoridades como as práticas religiosas em vigor.

Hoje o mundo está sem padrão. Mas não é somente o mundo, a própria Igreja Evangélica está voltando a enterrar o seu padrão em meio a um entulho místico pseudo-espiritual – a mensagem da Reforma continua necessária.

Sabemos que nas pessoas sem Deus imperam o subjetivismo e o existencialismo. A única regra de prática existente parece ser: “Comamos e bebamos porque amanhã morreremos.” Verificamos que nas seitas existe uma multiplicidade de padrões. Livros e escritos são apresentados como se a sua autoridade estivesse paralela ou até acima da Bíblia. A cena comum é a apresentação de novas revelações, geralmente de caráter escatológico e de características fluidas, contraditórias e totalmente duvidosas.

No meio eclesiástico liberal, já nos acostumamos a identificar o ataque constante à veracidade das Escrituras. Já há mais de dois séculos os liberais têm contestado sistematicamente a Palavra de Deus, como se a fé cristã verdadeira fosse capaz de subsistir sem o seu alicerce principal.

Mas é no campo Evangélico que somos perturbados com os últimos ataques à Bíblia como regra inerrante de fé e prática. Ultimamente muitos pseudo-intelectuais têm questionado a doutrina que coloca a Bíblia como um livro inspirado, livre de erro. Podemos tomar como exemplo o caso do Fuller Theological Seminary. Esta famosa instituição evangélica foi fundada em 1947 sobre princípios corretos. Logo após o seu início, formulou-se uma declaração de fé que especificava: “…os livros do Velho Testamento e Novo Testamento…, nos originais, são inspirados plenariamente e livres de erro, no todo e em suas partes…” Entretanto, em 1968, o filho do fundador, Daniel Fuller, que havia estudado sob Karl Barth, começou a questionar a inerrância da Bíblia, fazendo distinção entre trechos “revelativos” e trechos “não revelativos” das Escrituras. Foi seguido nesta posição pelo presidente, David Hubbard, e por vários outros professores, todos considerados evangélicos. Logicamente não há critério coerente ou autoritativo para fazer esta distinção. Subtrai-se da Igreja o seu padrão, derruba-se um dos pilares da Reforma, e a Igreja é retroagida a uma condição medieval de dependência dos “especialistas” que nos dirão quais as partes em que devemos crer realmente e quais as que devemos descartar como mera invenção humana.

No campo evangélico neopentecostal a suficiência da Palavra de Deus é desconsiderada e substituída pelas supostas “novas revelações”, que passam a ser determinantes das doutrinas e práticas do povo de Deus.

A Confissão de Fé de Westminster, em seu Capítulo 1º, apresenta a mensagem inequívoca da Reforma do Século XVI, cada vez mais válida aos nossos dias. Ali a Bíblia é descrita como sendo a “… única regra infalível de fé e de prática”.

D. A Reforma redescobriu na Palavra a doutrina do Sacerdócio Individual do Crente – Hb 10:19-21

O sacerdócio individual do crente foi uma outra doutrina resgatada. Ela apresenta a pessoa de Cristo como único mediador entre Deus e os homens, concedendo a cada salvo “acesso direto ao trono” por intermédio do sacrifício de Cristo na cruz e pela operação do Espírito Santo no “homem interior”. O ensinamento bíblico, transmitido pela Reforma, eliminava os vários intermediários que haviam surgido ao longo dos séculos, entre o Deus que salva e o pecador redimido. Na ocasião, esse era um ensinamento totalmente estranho à Igreja de Roma, que sempre se apresentou como tendo a palavra final de autoridade e interpretação das Escrituras.

Lutero rebelou-se contra o véu de obscuridade que a Igreja lançava sobre as verdades espirituais e levou os fiéis de volta ao trono da graça. Isso proporcionou uma abertura providencial de conhecimento teológico e religioso. Lutero sabia disso, mas sabia também que o acesso a Deus deveria estar fundamentado nas verdades da Bíblia, tanto que um de seus primeiros esforços, após o rompimento com a Igreja Romana, foi a tradução da Palavra de Deus para a língua falada em seu país: o alemão.

O ensinamento do sacerdócio individual do crente foi o grande responsável pelo estudo aprofundado das Escrituras e pela disseminação da fé reformada. Levados a proceder como os bereanos, os crentes verificaram que não dependiam do clero para o entendimento e aplicação dos preceitos de Deus e passaram a entender com determinação as doutrinas cristãs.

A mensagem da Reforma continua sendo necessária hoje. A igreja contemporânea está multiplicando-se em quantidade de adeptos, mas é uma multiplicação estranha que segue acompanhada de uma preguiça mental quanto ao estudo. Parece que fomos todos tomados de anorexia espiritual, onde nos contentamos com muito pouco, nos achamos mestres sem estudar, nos concentramos na periferia e não no cerne das doutrinas e ficamos felizes com o recebimento só do “leite” e não da “carne”.

A mensagem da Reforma é necessária para que não venhamos a testemunhar a consolidação de toda uma geração de “analfabetos cristãos”. Em vez de procurar “tudo enlatado” e de deixar que apenas formas de entretenimento povoem nossa mente e coração, devemos nos lembrar constantemente da importância de “guardar a palavra no coração”.

Precisamos nos aperceber de que a objetividade da Palavra de Deus é verdade proposicional objetiva. Mas esta objetividade tem que ser acompanhada do nosso estudo e da nossa capacidade de compreensão, sob a iluminação do Espírito Santo de Deus, e da aplicação coerente dos ensinamentos desta Palavra em nossa vida.

E. A Reforma apresentou, de forma clara e inequívoca, o conceito de Soberania de Deus – Salmo 24

Na ocasião da Reforma, as expressões de religiosidade tinham se tornado totalmente centralizadas no homem. Isso ocorreu principalmente pela grande influência de Tomás de Aquino na sistematização do pensamento católico romano. Abraçando as idéias de Pelágio, Aquino enfatizou completamente o livre arbítrio do homem. Ele desconsiderou a gravidade da escravidão ao pecado que torna o homem incapaz de escolher o bem. Lutero reconheceu que a salvação se constituía em algo mais que uma mera convicção intelectual. Era, na realidade, um milagre da parte de Deus. Por isso, ele tanto pregou quanto escreveu sobre “a prisão do arbítrio”. Costumamos atribuir a cristalização das doutrinas relacionadas com a soberania de Deus a João Calvino apenas, mas o ensinamento bíblico de Lutero traz, com não menor veemência, uma teologia teocêntrica na qual Deus reina soberanamente em todos os sentidos.

Hoje, a mensagem continua a ser necessária, pois o homem, e não Deus, continua sendo o centro das atenções. Mesmo dentro dos círculos evangélicos, a evangelização elege a felicidade do homem como alvo principal, e não a glória de Deus. Até a nossa liturgia é desenvolvida em torno de algo que nos faça “sentir bem”, e não com o objetivo maior da glorificação a Deus. Nesse aspecto, deveríamos estar atentos à mensagem de Amós, que nos ensina (Am 4:4-5) que Deus não Se impressiona com a liturgia que não é direcionada a Ele. Nesse trecho vemos que a adoração realizada em Betel e Gilgal tinha várias características dos cultos contemporâneos:

1. Os locais eram suntuosos e famosos (Betel possuía belas fontes no topo da montanha).

2. A periodicidade dos cultos e possivelmente a freqüência era exemplar (diariamente se reuniam).

3. As contribuições eram abundantes, superando até os padrões de Deus (de três em três dias traziam as ofertas).

4. O louvor era abundante (sacrifícios de louvor eram ofertados; Am 5.23 e 6.5 falam também do estrépito dos cânticos e da transbordante música instrumental).

5. Havia bastante publicidade (as ofertas eram divulgadas e apregoadas).

6. Havia alegria e deleite geral nos trabalhos (“disso gostais”, diz o profeta).

O resultado de toda essa adoração centralizada no homem foi a mão pesada de Deus em julgamento sobre aquela sociedade insensível (com aquele culto, as pessoas, dizia o profeta, “multiplicavam as suas transgressões”). Realmente, à semelhança da Reforma, precisamos resgatar a pregação da soberania de Deus e demonstrar esta doutrina na prática de nossa vida e na das nossas igrejas.

CONCLUSÃO

Devemos reconhecer a Reforma como um movimento operado por homens falíveis, mas poderosamente utilizados pelo Espírito Santo de Deus para resgatar Suas verdades e preservar a Sua Igreja. Não devemos endeusar os Reformadores nem a Reforma, mas não podemos deixá-la esquecida e nem deixar de proclamar a sua mensagem, que reflete o ensinamento da Palavra de Deus para os dias de hoje. A natureza humana continua a mesma, submersa em pecado. Os problemas e situações tendem a se repetir, até no seio da Igreja. O Deus da Reforma fala ao mundo hoje, com a mesma mensagem eterna. Devemos, em oração e temor, ter a coragem de pregá-la e proclamá-la à nossa Igreja.

(Publicado em O Presbiteriano Conservador na edição de Setembro/Outubro de 1997)

Fonte: [ Monergismo ]
Via: [
Ministério Batista Beréia ]

 

 

Leituras e Textos

Série: Falsos Profetas - Parte 10


Os últimos tempos têm sido marcados pela multiplicação de falsos profetas. Dentre tantos aqueles que tem advogado o recebimento de novas revelações, podemos destacar Rebecca Brown.

Rebecca Julia Brown, ex-médica, (cujo nome de nascimento é Ruth Irene Bailey, nascida em Shelbville, Indiana em 21 de maio de 1948) é conhecida por ter supostamente ajudado a libertar pessoas do ocultismo no estado de Indiana e em diversas outras localidades dos Estados Unidos. Brown teve sua licença médica cassada por imperícia e medicação imprópria a seus pacientes. Ela é conhecida por sua série de obras sobre Satanismo. Segundo ela, existem campos de recrutamento de satanistas e bruxos por todo o mundo. Brown casou-se em Daniel Michael Yoder em 10 de dezembro de 1989 e atualmente lidera um grupo chamado “Guerreiros da Colheita” com seu marido.

Em seu livro “Ele veio para libertar os cativos” Rebecca Brown relata uma batalha espiritual que mais parece um filme de terror do que qualquer outra coisa. No livro em questão, ela conta a história de uma bruxa que é presa dentro de uma parede de cimento e tijolos apenas pelo olhar da outra; relata também a ação de demônios que arremessam crentes contra a parede; superestima o poder do diabo, minimizando a soberania de Deus; defende a existência de lobisomens, zumbis, vampiros e animais repugnantes, ensina que o crente em Jesus pode ficar endemoninhado, como também a possibilidade de relacionamentos sexuais entre humanos e demônios, cujos frutos seriam o surgimento de mutantes.

Prezado amigo, falta-me palavras diante de tantas heresias. Confesso que me preocupa o fato em saber que crentes em Jesus preferem acreditar em fábulas a Palavra de Deus. Inevitávelmente isto me faz lembrar da 2ª carta de Paulo a Timóteo que diz: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (2 Tim:4.3,4)

Caro leitor, o reformador João Calvino costumava dizer que o verdadeiro conhecimento de Deus está na Bíblia, e de que ela é o escudo que nos protege do erro. Em tempos difíceis como o nosso, precisamos regressar à Palavra de Deus, fazendo dela nossa única regra de fé, prática e comportamento. Além do mais, afirmo sem titubeios afirmo que os ensinos de Rebecca Brown são espúrios, anti-biblicos e devem ser rejeitados por todo aquele que ama a Deus e sua Palavra.

Soli Deo Gloria,
 
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